Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
sábado, 18 de abril de 2009
19 de abril de 2009 | N° 15944
DAVID COIMBRA
O resultado de duas semanas na Bahia
Ela era linda, e vestia uma calcinha minúscula e botas pretas de cano longo, e mais nada.
Imagine uma mulher assim. Era a namorada de um ouvinte do Pretinho Básico, da Atlântida. Ele enviou um lacrimoso imeil para o programa e eu o li, dias atrás, e o considerei muitíssimo ilustrativo. Resumi-lo-ei agora, para o deleite dos leitores. Foi o seguinte:
O ouvinte se encontrava na casa da mãe da namorada, como já dito, e a mãe da namorada anunciou uma longa demora. Eis que, mal fechada a porta da casa, a namorada surgiu nesses trajes sumários, tudo desvelado, cabeça formosa, tronco macio, cintura delgada, coxas roliças, tudo, menos o território entre a sola dos pés e os joelhos, coberto por botas pretas de cano alto, e as partes pudendas, mal escondidas pela mínima calcinha. Vestida desta maneira, ela deslizou para o quarto, convidando-o com o olhar de promessas. Ele foi, o coração aos pulos. E teve a mais estrondosa experiência sexual da sua vida.
Depois do que, passaram à fase mais séria do namoro. Ele apaixonado, ela também, ambos jurando amor eterno, planejando uma vida em comum, e assim se seguiu por três meses. Então...
...então...então ela foi passar as férias na Bahia.
O leitor não revelou exatamente em qual lugar da Bahia sua amada foi gozar as férias, mas suponho que tenha sido Porto Seguro. Quando retornou, após duas semanas, seu beijo não era mais o mesmo, ela estava distante, pensativa, ele desconfiou:
– Conte-me a verdade, por favor: você me traiu na Bahia?
Ela fez beicinho. Como ele podia pensar algo assim? Como podia desconfiar do seu amor? Do seu recato? Sua pureza. Nunca, jamais, de forma alguma ela o traíra na Bahia ou em qualquer metro quadrado do território nacional!
O ouvinte ficou mais aliviado. Só que o namoro não voltou a ser o mesmo. Um mês depois, ela, aos prantos, reafirmou seu amor, mas disse que precisava “dar um tempo”. Coisas de mulher, entende? Crises. Separaram-se. Ele continuava a amá-la, ela continuava a amá-lo. Ainda assim, ele arranjou outra, sem jamais esquecê-la. Passados mais três meses, voltaram a se falar pelo Orkut. Aí ele decidiu ousar. Propôs que voltassem, que retomassem o velho amor. A resposta da ex-namorada foi um tiro de bazuca entre as orelhas do ouvinte:
“Eu te traí muito na Bahia. Se voltarmos, não vou mais te respeitar”.
Passei a semana pensando nessas duas frases. Primeira frase: “Eu te traí MUITO na Bahia”. Ela não apenas o traiu; traiu MUITO. Como uma mulher trai MUITO? Trai repetidamente, suponho. Trai e trai e trai e trai de novo, em diversas e acrobáticas posições. Talvez com mais de um homem.
Talvez um diferente por dia. Provavelmente com um ou vários daqueles negões que há em Porto Seguro. Já estive em Porto Seguro. Aqueles negões. Eles dançam. Começa a tocar uma música e eles se posicionam bem na frente das loiras e rebolam e trançam as pernas e quebram a cintura e logo as loiras já estão rodopiando nos braços deles e aí é gol do Brasil.
A namorada do ouvinte passou duas semanas em Porto Seguro. Duas semanas traindo MUITO.
A segunda frase, porém, é que me motiva a escrever. Por traí-lo, ela não o respeitava mais. Talvez se ele a tivesse traído não haveria tanto problema. Ela poderia perdoar uma traição, ele não ficaria diminuído diante dela por isso. Mas como foi o contrário, como foi ela quem o traiu, ela não suportaria a volta. Sentiria desprezo por ele, se namorassem de novo.
Certas traições são imperdoáveis. E quem não perdoa não é o traído; é quem trai. Adriano, de alguma forma, traiu o futebol diversas vezes. Traiu clubes, dirigentes, torcedores e colegas. Traiu MUITO, como a namorada do ouvinte. Foi sempre aceito de volta com sorrisos de boas-vindas, como talvez o ouvinte aceitasse a traidora.
O futebol moderno é assim. Vale mais pelo dinheiro que representa. São valores que deviam ser morais, mas que são medidos em cifrões. Como respeitar alguém que só respeita o dinheiro? Por isso, Adriano perdeu o gosto pelo meio do futebol.
Ele traiu MUITO, e agora não admira mais quem aceitou a traição. Não deixa de ser alguma dignidade. Se não foi assim, seria melhor que tivesse sido. Pelo menos para Adriano. E para a namorada do ouvinte.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário