sábado, 18 de abril de 2009



19 de abril de 2009 | N° 15944
MOACYR SCLIAR


Nós, os de Marte

Homens são de Marte, mulheres são de Vênus. Se vocês têm alguma dúvida sobre o êxito dessa fórmula, usada pelo psicólogo John Gray no título de um milionário best-seller, entrem no site dele.

O binômio Marte & Vênus é um verdadeiro negócio: há livros sobre o assunto, há ofertas de consultas, de suplementos nutricionais, de dietas, de franchises, de encontros online. Com o que ficou definido: nós, homens, somos de Marte.

Isso não vem de hoje, claro. Desde que os seres humanos começaram a olhar para o firmamento, a associação dos corpos celestes com nossos temperamentos e nossos destinos tornou-se coisa habitual. Saturno, pesado e lento, é o planeta da melancolia, e até hoje o termo “saturnino” o lembra. Vênus evoca a deusa do mesmo nome, sempre retratada como uma mulher linda: é o planeta do amor e das mulheres.

Para o sexo masculino sobrou Marte. É o deus da guerra, e, tirando as amazonas, quem eram os guerreiros, se não os homens? É também o planeta vermelho e, apesar da possível irritação dos gremistas a respeito, convenhamos que essa é a cor da luta, adotada pelos revolucionários desde o século 19.

Aí chegamos aos marcianos. Seres imaginários, claro. Mas a imaginação ficcional nunca foi muito favorável aos habitantes de Marte. Em filmes e livros, aparecem como estranhos homenzinhos verdes, e o verde, por ecológico que seja, não funciona muito bem em termos de pele, nem de caráter: falamos que uma pessoa está verde de inveja. Os marcianos são deformados, têm olhos enormes, antenas (será o órgão fálico deles?), caminham desengonçados.

Estão sempre armados com pistolas de raios mortíferos. Quando descem de suas naves espaciais – sim, porque o sonho deles é chegar à Terra – dirigem-se aos aterrorizados soldados americanos com uma frase em voz metálica: “Levem-nos a seu líder” (pobre do Obama). Conclusão: se nós, homens, somos de Marte, estamos, em matéria de imagem, bem arranjados.

Mas felizmente a nave que traria os marcianos à Terra em geral passa por Vênus. E essa é uma escala abençoada. Ali estão as mulheres, lindas, doces, meigas. Ali está o amor. E o amor transforma os homens, como transforma as mulheres. O verde da pele dá lugar ao rubor da paixão. As antenas somem.

As pistolas são esquecidas num canto qualquer. Claro, continuamos a dizer: “Levem-nos a seu líder”, mas agora sabemos que só há um líder ao qual vale a pena obedecer, e este líder é o nosso coração. John Gray acertou, ainda que pelos motivos errados: homens são de Marte, mulheres são de Vênus. E é bom que continue assim.

Enorme a repercussão do filme Divã a ser lançado proximamente. Consagra Martha Medeiros como uma intérprete da condição feminina na classe média brasileira. ? O escritor Charles Kiefer, que há anos mantém uma excelente oficina literária, agora criou o Espaço Charles Kiefer de Oficinas Literárias, que funciona na Rua Itororó, 175/206 (Menino Deus). Lá estarei no dia 26 de maio.

Os 12 participantes receberão um exemplar autografado do livro Histórias para (Quase) Todos os Gostos, da gloriosa, venturosa e sempre fogosa L&PM. No dia 9 de junho, será a vez do mestre Luis Augusto Fischer.

E muito mais vem por aí. Contatos pelos e-mails charleskiefer@uol.com.br ou oficinack@cpovo.net ? A propósito de meu texto no caderno Vida, sobre pessoas que escrevem sobre seus problemas de saúde, recebo um e-mail da Bruna Rocha Silveira. Ela tem esclerose múltipla (EM), doença neurológica, e mantém um blog diário sobre o tema.

Diz a Bruna: “Criei o blog por insistência de amigos, e também porque só hoje, oito anos após o diagnóstico, não sinto mais dor ou raiva ao lembrar todos os dias da doença. Realmente, ajuda bastante, a mim, aos meus amigos portadores de EM e familiares.” Parabéns, Bruna. O endereço do blog é: www.esclerosemultiplaeeu.blogspot.com. ?

A respeito de nomes que condicionam destino, o Luiz Ernani lembra que o presidente da Associação Rio-Grandense de Olivicultores, um pioneiro na produção de azeite de oliva no Estado, chama-se Guajará Oliveira. E o Renon Vieira assinala: a menina que, tempos atrás, pichou o Museu de Arte de SP chama-se Caroline Pivetta. Será que Pivetta é feminino de pivete? ?

Os leitores Lauro Dieckmann e Antonio Rodrigues cumprimentam pela crônica sobre álcool e arte. Agradeço as mensagens de Ruth Paranhos, Sílvio Johann, Maria Augusta, Mauro Duarte, José Diogo C.da Silva, Alvin Tomm, Ruth Almeida, Ildo Tatsch.

Nenhum comentário: