sexta-feira, 17 de abril de 2009


Autor(es): Marcelo Coutinho - O Globo - 17/04/2009

Esperança desperdiçada

O atual governo federal prometeu romper um ciclo de baixo crescimento econômico que se arrasta há mais de trinta anos, e terminará com uma média próxima à do seu antecessor.

Lula não é Getúlio ou JK, mas um presidente que, depois de conquistar ampla popularidade, transformou boa parte da esperança em desperdício.

Na sua era, como se já fossemos uma nação resolvida, sem problemas históricos graves, o País não passou por reformas sociais ou liberais estruturantes.

Confundiu coalizão com práticas questionáveis, agora mais do que nunca incrustadas na cultura política. A existência de tantos partidos na sua base não serviu a um projeto nacional. Parece ter sido apenas a troco do poder.

O Brasil de Lula não avançou economicamente quanto o vizinho Peru do liberal Alan Garcia, que ajudou seu país a crescer mais de 9% ao ano. Tampouco o nosso presidente liderou mudanças sociais com a mesma intensidade de Hugo Chávez, cuja Venezuela assistiu uma evolução mais positiva nos índices de pobreza e analfabetismo.

Apesar de sua inclinação autoritária, o bolivariano melhorou fortemente o IDH do país, deixando o nosso para trás. Lula não apresentou sequer o mesmo comedimento e prudência dos seus contemporâneos chilenos Lagos e Bachelet. Por fim, enquanto China e Índia crescerão este ano a taxas que precisaríamos crescer todos os anos até nos desenvolvermos, a crise nos chegou às margens da recessão.

Evidentemente, durante o governo petista o Brasil progrediu em alguns aspectos, por exemplo, na redução contínua da concentração de renda, ainda que pequena e agora ameaçada pelo aumento da pobreza. A política externa também teve objetivos louváveis, embora com resultados contraditórios.

A agenda ambiental, por outro lado, foi compreendida tímida e tardiamente. Assim como a queda dos juros ou a aceleração do crescimento, outras decisões demoraram e chegamos atrasados ao melhor momento da economia mundial.

O governo Lula não é responsável pela crise global. Mas não é possível dizer que lhe faltou sorte ou que o desemprego é culpa das empresas ou ainda que uma política econômica inovadora nos livrou do FMI.

Se é verdade que o governo FHC enfrentou crises externas menores que esta, é verdade também que os tucanos lançaram os fundamentos atuais da economia brasileira, e quando estiveram no Palácio do Planalto não gozaram de um ambiente internacional tão favorável como Lula entre 2003 e 2008. Esses anos abriram uma ja nela de oportunidade preciosa, mas não foram suficientemente aproveitados.

O Brasil não se conformará com menos do que merece. Seu enorme potencial o coloca entre os principais emergentes do mundo e deve se traduzir em mais qualidade de vida para os brasileiros.

Para isso, precisamos recomeçar a construir o futuro do crescimento justo e sustentável, a partir de aliança calcada em um projeto nacional ambicioso, cujas adesões não se sintam obrigadas a estar artificialmente no mesmo lado do ringue partidário das duas últimas décadas.

A crise não será para sempre, e as velhas ideologias fazem hoje menos sentido. Em 2010 a esperança poderá renascer em torno de uma liderança à altura do desafio de tornar o Brasil uma democracia desenvolvida.

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