domingo, 26 de abril de 2009


INÁCIO ARAUJO - CRÍTICO DA FOLHA

"Johnny" é verossímil, mas não verdadeiro

A célebre frase que fecha "M, o Vampiro de Dusseldorf" poderia muito bem se aplicar a "Meu Nome Não É Johnny" (TC Pipoca, 20h; não recomendado a menores de 14 anos). Inserida no filme para deixar a censura feliz, ela é proferida por uma mãe enlutada: "Nós também precisamos cuidar mais dos nossos filhos".

É isso, em linhas gerais, o que pretende dizer o nosso "Johnny". Como quase todos os filmes brasileiros de sucesso nos últimos anos, este também pretende mostrar algo que inquieta o espectador (hoje, um ser da classe média para cima), que acontece e, no entanto, permanece fechado a seu conhecimento.

No caso de "Cidade de Deus", por exemplo, eram os marginais da favela (quando se mostram os não marginais, mesmo que se tornem vítimas, o filme não emplaca). No caso de "Johnny", são as drogas.

Do que trata o filme: como alguém que tem dinheiro, formação etc. etc. se torna um viciado? O curioso, no caso, é que, para o filme dar certo (isto é: dar público), ele não pode oferecer respostas verdadeiras.

Elas têm de ser plausíveis e capazes de nos tranquilizar (ah, tudo vai correr bem, pois não deixamos nosso rapaz sozinho e tal). As respostas têm de ser, em uma palavra, verossímeis, não verdadeiras. Têm de ser "baseadas num caso real", mas não reais. Isto é, têm de ser que nem o filme (e se o ator, Selton Mello, é ótimo, tanto melhor).

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