segunda-feira, 27 de abril de 2009



OS NOMES DA IDADE

Fui convidado pelo dr. De Carli a falar sobre idade no curso de Gerontologia da PUCRS. A gente nem sempre percebe, mas a idade tem nomes. Mais do que isso, esses nomes mudam com a idade. É uma questão de tempo.

Quando eu era criança, achava velhos alguns jovens de 40 anos e chamava, como todos naquela época, de velhice a idade que começava pelos 50 anos, ou antes, e terminava, em geral, naquele tempo, com sorte, em torno dos 70.

Velhice é o nome da idade daqueles que, vistos pelos muitos jovens, parecem sempre mais velhos do que muitas vezes realmente são. Para algumas crianças, a velhice começa aos 30. Para um adolescente, aos 40. Para um jovem adulto, aos 50. Para um homem na meia-idade, não começa. Muda de nome.

É quando se passa a falar em terceira idade. Se a adolescência é um conceito muito jovem, inventado por psicológicos do século XX, a velhice é um conceito muito antigo, tão antigo que se tornou anacrônico numa idade de hipervalorização da juventude.

A criança politicamente correta diz idoso. O adolescente, sempre politicamente incorreto, fala velho. O adulto, com os pés no solo movediço da segunda idade, refere-se à terceira.

Os primeiros querem acelerar o tempo. Os demais tentam freá-los. Dar nomes à idade pode ser uma maneira de negociar com o tempo. Elisabeth Badinter ou Philippe Áries sugerem que o conceito de infância, como o entendemos atualmente, foi criado no século XIX. É muito velho quando comparado aos de terceira idade e, principalmente, de melhor idade.

Terceira idade é uma expressão que se pretende neutra. Teria a vantagem de não julgar e de evitar preconceitos. O único problema cronológico: em que idade começa a terceira idade? A terceira idade é biológica ou espiritual? Todo mundo sabe que há jovens na terceira idade e idosos muitos jovens. Por alguma razão, contudo, surgiu a expressão melhor idade.

Nada impede que se trate deste assunto com algum humor. Dizem que há diferença entre melhor idade e melhoridade. Esta seria a idade em que a pessoa só pensa em melhorar. É um assunto que me interessa. Estou dobrando o cabo da boa esperança. Começo a tomar certos cuidados com as palavras. Estou passando de lobo a condor. Especialmente num ombro.

Outro dia, um idoso me perguntou: 'Por que a velhice seria a melhor idade?'. Respondi cautelosamente: por ser a terceira idade quando mais se tem experiências acumuladas. Ele me respondeu à Oscar Wilde: 'E erros'. Na Internet, encontrei esta definição: 'A melhor idade é aquela em que não contamos o tempo, e sim quando vivemos o tempo, proporcionando felicidade a nós mesmos e a todos ao nosso redor'.

Faz sentido. Uma perspectiva menos otimista, contudo, poderia dizer que é quando somos contados pelo tempo. Certo é que, atualmente, as pessoas da terceira idade querem muito viver. E viver muito. Desejam que o pior tenha ficado para trás, embora saibam que o pior pode estar por vir. Há uma mudança de olhar.

Simone de Beauvoir publicou, em 1970, uma obra-prima intitulada 'A Velhice'. Hoje, teria mudado o seu título para 'A Terceira Idade' ou 'A Melhor Idade'. Certamente não, pois era uma denúncia.

A escritora condenava o desinteresse da sociedade de consumo pelos idosos: 'Antes de tudo, exige-se deles a serenidade; afirma-se que possuem essa serenidade, o que autoriza o desinteresse por sua infelicidade'. Depois disso, os nomes dessa idade mudaram. Resta saber se também mudaram os comportamentos.

juremir@correiodopovo.com.br

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