sexta-feira, 2 de maio de 2008



02 de maio de 2008
N° 15589 - Silvestrin


Estética para todos

Tem uma dimensão estética em todo mundo. Começa pelo corpo. Por exemplo, a geração do meu pai toda usava bigode. Mulheres pintam os cabelos de loiro.

Fazem chapinha. Homens com suíças, cavanhaques. Depois dos óculos retrôs, de aro preto, agora o aro branco. A internet é uma boa mostra da porção estética das pessoas.

Nos perfis do Orkut, na parte do quem sou eu, muitos se definem usando trechos de letras de música, poemas, citações de contos, de romances. Os blogs revelam que a literatura tem muito mais praticantes e leitores do que se supunha. Os flickrs nos mostram o talento fotográfico de uma porção de ex-anônimos.

Enquadramentos, detalhes de objetos, fotos retrabalhadas com programas gráficos. Sem falar nos que colocam seus desenhos, pinturas. E as bandas e mais bandas que botam suas músicas no My Space, no Trama Virtual.

Os clipes caseiros no You Tube. E se olhar com atenção nas ruas, entrando num boteco, uma certa disposição das garrafas, um São Jorge, uma cortina. E se reparar nas fachadas das casas antigas, os frisos, os contornos das janelas, as pequenas esculturas. As plantas numa seqüência de vasos caprichosamente colocados num corredor lateral.

Estou lendo o livro Universos da Arte, da artista plástica e professora Fayga Ostrower. Relata um curso que ela deu para operários de uma fábrica sobre a linguagem visual. Fala que a nossa percepção do espaço define inclusive a maneira de entendermos o comportamento das pessoas.

Dizemos que alguém é aberto, fechado, profundo, superficial. Mostra que o traço nunca se repete, mesmo que se passe por cima, tentando refazer exatamente o mesmo trajeto. Isso porque há um conteúdo expressivo nele. Nunca se é o mesmo. Um segundo e já se é outro.

Lembrei que, quando somos crianças, desenhamos. E muitas vezes desistimos quando vamos crescendo, porque o desenho não fica igual à coisa que tentamos copiar.

Mas um desenho não é a coisa copiada. É essa diferença que faz dele um desenho. E tantas outras fichas que vão caindo e que vão ampliando o nosso olhar, a nossa percepção da formas, redimensionando a nossa infinita dimensão estética.

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