Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
quarta-feira, 19 de setembro de 2007
Sabe como é
19 de setembro de 2007
Martha Medeiros
Sabe como é
Eu estava descendo pelo elevador. De repente, a cabine parou no terceiro andar, a porta se abriu e reparei que havia um apartamento em obras. Uma moça meio empoeirada entrou no elevador e seguiu descendo comigo.
Cumprindo as regras da boa vizinhança, perguntei quando é que se mudariam. Ela respondeu que, se tudo desse certo, na próxima semana, mas o marceneiro ainda tinha que acabar um serviço, e marceneiro, sabe como é...
Fiquei com aquele "sabe como é" martelando no meu ouvido. Marceneiro atrasa. Era isso que eu deveria saber como é. Aliás, nenhuma obra é entregue no prazo combinado, todo mundo sabe como é.
E, por sabermos como é, as combinações são desrespeitadas e qualquer cobrança torna-se nula. Se a gente sabe como é, está reclamando do quê?
Alguns médicos não costumam atender no horário marcado. Antes de se deslocar até o consultório, convém telefonar. Há grande chance de a secretária avisar: "Olha, é melhor você vir uma meia horinha depois, porque a paciente das quatro e meia ainda nem chegou, sabe como é..."
Se uma peça de teatro está marcada para as 21h, é bom chegar às 21h, porque é provável que ela comece em ponto. Mas um show de rock numa casa noturna marcado para as 22h30min, sabe como é, antes da meia-noite não rola de jeito nenhum.
O presidente do Senado faltou com decoro parlamentar e não foi cassado? Lula considerou tudo absolutamente normal? Qual a surpresa? Você devia saber como é.
Ninguém aparecer para trabalhar na Quarta-Feira de Cinzas, não devolverem o livro que você emprestou, seu filho adolescente esquecer de dar um recado. A gente sabe como é. E sabendo, não se mexe, não corre atrás do prejuízo, não tenta mudar nada.
Esse conformismo talvez esteja com os dias contados. Sinto no ar, pela primeira vez, um desconforto geral que pode dar em alguma coisa.
A gente sempre soube como a violência é, como a política é, como o Brasil é. Era assim mesmo. Desse jeito aí. Fazer o quê? Mas parece que nossa complacência chegou ao limite.
Espero que este 2007 seja marcado pela reação. Que todos tenham disposição para dizer: "Sei como é, mas não quero pra mim".
É um posicionamento difícil de transformar em prática, mas se não dispensarmos o marceneiro que sempre atrasa o serviço, se ficarmos constrangidos de pedir de volta o livro emprestado, se não entrarmos na Justiça contra a empresa aérea que cancelou o vôo, como iremos nos habituar a lutar por coisas ainda mais sérias?
Chega de tolerar o malfeito e o errado. Daqui pra frente, ninguém mais sabe como é. Queremos saber como vai ser.
Bem depois de alguma dificuldade inicial foram encontradas a página dos colunistas na ZH que continua aberta, possivelmente para o pessoal navegar, gostar e posteriormente comprar a assinatura.
De todo o jeito aqui continuarão a ser postadas as crônicas diárias do jornal: primeiro por que é daqui - Gaúcho mesmo, junto com as do Correio do Povo, de vez em quando. Este sim já pago há muito tempo. Uma ótima quarta-feira, véspera de feriado neste Estado - Aqui há o Dia do Gaúcho tchê
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário