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quarta-feira, 19 de setembro de 2007
Eu sei onde fica o Alegrete
19 de setembro de 2007
N° 15371 - Paulo Sant'ana
Eu sei onde fica o Alegrete
Como amanhã é o 20 de Setembro, dirijo-me hoje para uma das mais vibrantes catedrais do tradicionalismo gaúcho: Alegrete.
Lá, amanhã e depois, vou matear, vou churrasquear a mais tenra e saborosa costela de cordeiro abatido apenas algumas horas antes, um bichinho vindo especialmente para mim lá do Cerro do Dinheiro, onde a pastagem detém um húmus tão rico em proteínas quanto a da Província de Buenos Aires.
Serão rápidos mas cheios de conteúdo humano esses dias de Alegrete, a tertúlia, a música, a poesia, a hospitalidade daquela gente amiga que se entrega à beira do fogo, mas principalmente a costela crocante do cordeiro, mas essencialmente a chuletinha úmida e macia e doce do cordeiro, como aqui tristemente não se encontra e lá se constitui num manjar dos privilegiados.
E depois é curtir o sacrário da tradição no desfile de quase 10 mil cavalarianos na data máxima farroupilha e o Jornal do Almoço, na Praça Getúlio Vargas. Amanhã, junto com a Rosane Marchetti, o Lasier Martins e toda a turma chefiada pelo Zé Pedro Vilalobos.
É sempre agradável uma mudança de ares.
Recebo do secretário da Saúde estadual, Osmar Terra, uma defesa extremada do SUS, embora ele classifique de "justa" a indignação que este colunista demonstra para com o sistema.
Ele diz que há 20 anos mais de metade da população brasileira não tinha direito ao atendimento médico-hospitalar, agora todos têm.
Acrescenta que, nos hospitais de 20 anos atrás, 60% das internações clínicas eram de crianças, enquanto hoje importam em apenas 3%.
Há 20 anos, segundo Osmar Terra, 10% das prefeituras brasileiras tinham sistema municipal de saúde, hoje 95% das prefeituras o possuem.
E afirma entre outros tantos elogios que, antes do SUS, quem necessitasse de um tratamento de alto custo, como para Aids, câncer ou doenças mais raras, tinha de arrumar recursos para pagá-lo ou ficava sem ele.
Hoje, afirma, quem necessitar recebe gratuitamente qualquer tratamento, por mais caro que ele seja, e 90% o conseguem sem qualquer medida judicial.
Depois de ler essas afirmações do secretário da Saúde, tentei durante três horas entrar em contato com ele e não foi possível, o que é lamentável, pois tal autoridade tinha o dever de estar antenado na comunicação. Mas como estava viajando para Brasília, se compreende.
Ocorre que a visão do secretário é quase delirante: como ele diz que qualquer pessoa recebe gratuitamente tratamento para o câncer, se esta semana o ministro da Saúde confessou que 90 mil cancerosos estão sem assistência de radioterapia no Brasil? Como é que Terra pode declarar isso?
E como é que ele afirma que 95% das prefeituras brasileiras têm sistema municipal de saúde, se ainda anteontem o cirurgião Eliseu Paglioli Neto, também defendendo o SUS, fez um libelo às prefeituras do Interior, dizendo que investem mais em telefonemas para os hospitais de Porto Alegre do que em atendimento dos seus doentes, transferindo todo o ônus desse atendimento para a Capital.
No que 95% das prefeituras prestam atendimento médico, secretário Terra, em ambulancioterapia? Chutando tudo para Porto Alegre, Santa Maria e outros pólos estrangulados.
E que prestação universal, plena e pronta de atendimento de saúde, é esta que crucifica mais de 30 mil gaúchos nas duas filas trágicas das cirurgias e das consultas, com três e quatro anos de espera. Mas o que é isso?
Sei da competência e da dedicação do secretário, considero alguns dos seus elogios ao SUS procedentes, mas ele tem à sua disposição esta coluna para explicar melhor esses dados e suas razões.
Pois o que quero exatamente é o debate nesta questão. Só o debate leva à luz. Uma pena que esquadrinhei o Brasil inteiro ontem e não encontrei o doutor Terra. Em tempos de celular.
"Direito todos têm ao atendimento", agora, diz o secretário. O que não têm é atendimento.
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