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sábado, 29 de setembro de 2007
30 de setembro de 2007
N° 15382 - Paulo Sant'ana
A saga dos geminianos
Sou geminiano. E nós, geminianos, somos seres muito especiais.
Orgulhamo-nos de que são ou foram geminianos Chico Buarque de Holanda, Garcia Lorca, Fernando Pessoa - o mais geminiano de todos os geminianos, usou uma dúzia de heterônimos - , Marilyn Monroe, Paul McCartney, Jean-Paul Sartre, John Kennedy, Machado de Assis, Che Guevara, Bob Dylan, Miles Davis.
Um time de respeito.
Uma característica básica dos geminianos é que nascemos para sermos reféns.
As pessoas nos amam, mas agem conosco como se nos odiassem. Da mesma forma, nós começamos amando e logo em seguida ficamos definitivamente aprisionados a tudo e todos que odiamos.
Os geminianos se deixam escravizar com extrema facilidade. Porque nós disputamos com os ingênuos a supremacia da bondade e com isso nos tornamos presas fáceis logo após a aproximação.
Os geminianos não gostam de ficar em casa à noite, mas logo em seguida aparece alguém em suas vidas, escalado para obrigá-los a não sair para a rua.
Os geminianos detestam qualquer compromisso e por isso nutrem medo pânico por formar família. Esse receio parece que os atrai terminantemente para o meio familiar, nunca mais se livrando dos tentáculos da afetividade, restando pregados para sempre às cruzes do sentimentalismo.
Forçoso é reconhecer que os geminianos são dados a trair, faz parte da sua herança genética a pluralidade amorosa. Seus corações têm catedrais imensas, onde abrigam todos que se magnetizam com sua larga capacidade afetiva.
Por outro lado, o inverso, os geminianos possuem uma invulnerabilidade para a traição. Ninguém tem coragem de ser infiel a eles, tão imensa é a sua capacidade de conquistar para sempre a quem por eles é tocado.
Mas essa fidelidade tributa o geminiano com pesados impostos de submissão, tão terríveis que talvez tivesse sido melhor para ele ter sido atingido pela traição, desde que isso significasse o que mais almeja o geminiano, a liberdade, benesse obviamente inatingível para ele.
São assim os geminianos, suas atribulações são devidas a que eles não sabem ser competentes para traduzir em gestos, ações e palavras o quanto se atiram a abnegados esforços de amor e amizade, o que inspira fatalmente os outros à desconfiança.
Não é permitido aos geminianos serem felizes. Haverá sempre dedos acusadores a apontar para eles, o que lhes causa um desespero aterrador em face da consciência clara de que na maioria das vezes estão sendo injustiçados.
Na verdade, a missão dos geminianos na Terra não é serem felizes, é fazer os outros felizes, embora estes assim nunca se considerem.
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