sexta-feira, 28 de setembro de 2007


Juremir Machado da Silva

SOMOS TODOS IGUAIS

O Brasil é um país sem preconceitos. Terra de samba e pandeiro. É assim, ao menos, que gostamos de nos imaginar ou de falar para inglês ver e ouvir. Somos todos iguais perante...

Perante quem mesmo? De agora em diante, do ponto de vista dos partidos políticos, somos todos iguais perante o caixa 2, a enganação geral e o 'eu não sabia'.

Mesmo os adversários mais renhidos, PSDB e PT, têm em comum a mesma prática de financiamento ilícito de campanha, o mesmo operador, Marcos Valério, o mesmo banco, o Rural, o mesmo publicitário, o conversador de fiado Duda Mendonça, e a mesma desfaçatez nas explicações fajutas: 'Eu não sabia' e 'Todo mundo faz'.

É como se Inter e Grêmio se irmanassem na compra de resultados. Ou como nossos chimangos e maragatos que praticavam a degola com a mesma desenvoltura.

O ex-governador de Minas Gerais Eduardo Azeredo pode gabar-se de ter sido o inventor do mensalão. Ele não o faz por ser um homem discreto e por preferir a sua casa a uma cela especial.

Quer dizer, como imagem, pois ninguém vai para a cadeia no Brasil por praticar bobagens como um mensalão aqui, outro ali. Agora, confessem que é lindo ver todos os partidos unidos por um vínculo tão profundo e secreto. Não acham? Bem, já nem tão secreto.

O partido dos ricos e o partido dos pobres passam no mesmo caixa, contratam os serviços escusos do mesmo lobista, trocam informações, repassam tecnologia criminosa, intercambiam sistemas complexos de infração à lei e correm abraçados para o mesmo objetivo: o poder a qualquer custo.

Os partidos políticos nunca foram sérios no Brasil. Getúlio Vargas, num sábio e cínico 'equilíbrio de antagonismos', criou logo dois partidos, o PSD e o PTB, um para a oligarquia e outro para a massa. Foi um imenso sucesso.

O entendimento é tão perfeito entre os partidos que Mares Guia, ex-vice governador na chapa de Azeredo, é o articulador político do governo federal do PT. Mares Guia foi o José Dirceu do PSDB.

Como se diz popularmente, uma mão lava a outra e várias mãos lavam (ou levam) muito dinheiro. O PSDB banca a vestal denunciando o mensalão do PT. Mas fecha o longo bico tucano na hora de explicar o mensalão do Azeredo. Entre eles, impera a máxima do 'somos todos irmãos na tristeza e na alegria'.

O mais interessante é que ninguém expulsa ninguém. Por que será? A Polícia Federal já descobriu que boa parte das verbas que irrigaram a lavoura tucana saiu de cofres públicos. Nada como uma boa investigação desinteressada para igualar as ações! Em caso de empate, zera-se o jogo e começa tudo de novo. Uau!

Somos um exemplo de tolerância para o mundo. Somos praticamente uma nação de tolerância. A miscigenação é total. Não há distinção de partido nem de classe social.

Todo mundo pode beneficiar-se de um caixa 2 azeitado e eficaz. O 'tucanoduto' teria levado combustível financeiro para as campanhas de, ao menos, 159 candidatos, incluindo aliados de outros partidos. É o golpe suprapartidário.

Sem dúvida, é um dos casos mais bem-sucedidos de distribuição eqüitativa de renda no Brasil. Nem o Bolsa-Família foi tão longe.

O mais impressionante é a candura de Eduardo Azeredo. Ele se justifica afirmando que não se ocupou das contas da própria campanha. Tinha mais o que fazer. É o famoso 'façam o que for preciso, mas não me contem...'.

juremir@correiodopovo.com.br

Uma ótima sexta-feira e um excelente fim de semana este que já é o último de setembro. Outubro vem aí a passos largos.

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