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sábado, 22 de setembro de 2007
23 de setembro de 2007
N° 15375 - David Coimbra
O caso das cuecas amarradas
Essa é uma história de horrores. Deu-se com um jogador mais ou menos conhecido. Digamos que se chamasse Rubimar, e que fosse centromédio. Não desejaria a ninguém que passasse pelo que Rubimar passou. Nem aos castradores de gatos que me querem, glup, castrar.
Tudo começou quando Rubimar viu aquilo... Foi horrível... Ele viu... Ele viu... Tremo só de escrever... Viu... Suas cuecas amarradas dentro da gaveta da namorada!!!
Explico: eles namoravam havia já algum tempo. Ela, como qualquer mulher, queria casar. Ele, como todo homem, tergiversava. Até que chegaram a um ponto irreversível. O ponto ao qual chega todo namoro, se o namoro vingar. O ponto em que o homem ouve a frase tão temida:
- Ou casamos, ou nos separamos!
Ele teria de se casar. Mas não queria! Não queria, por todos os lançamentos em profundidade! Só que também não pensava em separar-se.
Como sair do mexinflório? Pediu tempo para pensar. Luzia, esse o nome dela, concedeu-lhe o fim de semana. Dois dias durante os quais Rubimar sofreu como um gato castrado. Mas, na segunda de manhã, hosana nas alturas!, operou-se o milagre.
O telefone tocou (tema Pretinho Básico). Era um empresário convidando-o para um contrato de seis meses na Guiana. Estava salvo! Ou ao menos adiara a decisão por seis meses, e em seis meses tudo pode acontecer, seis meses são uma vida.
Quando Rubimar comunicou a Luzia que iria viajar, ela ficou furiosa, esbravejou, trancou-se no banheiro para chorar. Ele foi assim mesmo, Rubimar era um centromédio durão, um centromédio contendor.
Seis meses passam rápido, seis meses são um piscar dolhos tão veloz que tem apóstrofo. Rubimar voltou e, ao voltar, ainda não sabia o que fazer quanto a Luzia.
Tinha apenas uma certeza: não se casaria, isso é que não! Por um mês inteiro, o namoro seguiu seu curso normal. Luzia, estranhamente, ainda não falara em casamento.
Até aquele dia nefando. Era domingo, e Rubimar estava lesionado, não ia jogar. Foi passar o dia na casa de Luzia. Comeram massa com sardinha, viram Faustão. À altura do Domingo Maior, Rubimar retirou-se da sala para buscar uma roupa mais quente no quarto - sentia frio.
Ao vasculhar uma gaveta, deparou com aquelas cuecas. Sete cuecas brancas, amarradas em círculo, tendo, no meio do círculo, algumas velas, alguns grãos de milho, algumas oferendas.
Rubimar ficou apavorado. Naquele dia mesmo, pegou as cuecas e as levou dali. Saiu fugido da casa de Luzia, quase sem se despedir, deixando-a a balbuciar mas quê?, mas quê?...
Naquela mesma noite, queimou as cuecas e enterrou as cinzas em campo santo. No dia seguinte, ligou para Luzia bem cedo, terminou o namoro sem permitir contra-argumentação e correu a uma cartomante do Bairro Navegantes, a fim de perguntar o significado do feitiço.
Com uma voz que parecia egressa do beco mais pestilento do inferno, a cartomante respondeu que aquele era um encantamento poderoso, que Rubimar... jamais conseguiria fazer sexo com outra mulher que não a namorada!
Rubimar saiu de lá em estado de pânico. Foi direto para uma boate da Farrapos. Queria testar sua potência, nem que fosse com sexo pago. Não adiantou. Escolheu a loira mais opulenta para uma noite de pecado. E falhou miseravelmente. Falhou, sim, Rubimar falhou...
Desesperado, nosso herói passou a sair todas as noites, em busca de mulheres que o animassem. Não adiantava, ele não funcionava com nenhuma.
Consultou médicos, especialistas, fez acupuntura, tornou-se vegetariano. Nada. Por um ano inteiro, o triste Rubimar ficou à míngua. Então, não agüentou mais.
Procurou a namorada. Pediu que ela retirasse o feitiço. Implorou. Ajoelhou-se, até. Luzia sorriu, superior. E não respondeu nada. Apenas perguntou se ele queria ir ao cinema naquela noite. Rubimar, com lágrimas nos olhos, aceitou o convite.
Foram ver Piratas do Caribe. Casaram-se dois meses depois. Hoje, continuam juntos. Rubimar a odeia, mas diz que vai morrer com ela. Que nunca mais vai ficar longe daquela mulher. Que será dela para sempre e sempre e sempre.
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