sábado, 22 de setembro de 2007

Diogo, o traíra


Diogo Mainardi

Diogo, o traíra

"A única coisa a fazer na América Latina é emigrar. Quem declarou isso foi Simon Bolívar, alguns dias antes de morrer de tuberculose. Claro que concordo. Já emigrei no passado. Emigrarei muitas outras vezes no futuro. Eu sou um legítimo bolivariano"

Dei uma sanfona a meu filho de 6 anos. Agora ele está determinado a tocá-la na rua, pedindo esmola aos passantes. Creio que seja efeito do lulismo. Até a classe média já pensa em mendigar.

A sanfona foi comprada no Rio Grande do Sul. Na última segunda-feira, participei de uma palestra sobre o papel da imprensa, na PUC de Porto Alegre.

Fiz a pantomima de sempre: ofendi Lula e meia dúzia de jornalistas adesistas. A certa altura, uns manifestantes me interromperam com o brado:

– Diogo, traíra da América Latina!

A única coisa a fazer na América Latina é emigrar. Quem declarou isso foi Simon Bolívar, alguns dias antes de morrer de tuberculose. Claro que concordo. Já emigrei no passado.

Emigrarei muitas outras vezes no futuro. Eu sou um legítimo bolivariano. Só tenho de dar um jeito de morrer de tuberculose. No mesmo documento, Simon Bolívar declarou também que os países do continente seriam dominados por tiranos rasteiros e por massas desenfreadas.

– Bolívar, traíra da América Latina!

A propósito de tiranos rasteiros, Hugo Chávez, que alega inspirar-se em Simon Bolívar, mandou refazer todos os livros de história de seu país, a fim de preparar os alunos venezuelanos para o socialismo moreno, ou seja lá como se chama o que ele propõe.

Lula está bem mais adiantado do que Hugo Chávez. Como mostrou Ali Kamel, em O Globo, nossos estudantes aprendem desde cedo a glorificar Mao Tsé-tung, Fidel Castro, o MST, o comunismo soviético e Ziraldo.

Falsificar a história é uma prática corriqueira entre nós. Quando passei por Porto Alegre, um bando de gaúchos estava acampado à beira do Guaíba, bebendo mate e tocando sanfona, em homenagem ao aniversário da Guerra dos Farrapos.

No Correio do Povo, Juremir Machado da Silva definiu a Farroupilha como sendo "a guerra civil que perdemos, assinamos um acordo de empate e comemoramos como se tivéssemos vencido".

Uma das figuras mais características da Guerra dos Farrapos é o maestro Mendanha. Ele era o regente da fanfarra imperial. Depois de ser capturado pelas tropas farroupilhas, aceitou musicar o hino do inimigo.

O maestro Mendanha é o paradigma do artista nacional: rendido, medroso e traidor. Para compor o hino rio-grandense, ele roubou a melodia de uma valsa de Strauss. Portanto: rendido, medroso, traidor e plagiário.

Gilberto Gil é o maestro Mendanha do lulismo. Assim como o maestro Mendanha pirateou a valsa de Strauss, Gilberto Gil defendeu normas mais elásticas para a pirataria na internet.

Uma pesquisa recente do Instituto Ipsos indicou Gilberto Gil como o ministro mais popular de Lula. Isso aconteceu depois de o Ministério da Cultura ficar paralisado por mais de quatro meses, por causa da greve de seus funcionários.

Museus, bibliotecas, teatros e cinematecas permaneceram fechados. Se é assim que funciona, é melhor fechá-los de vez. Economizaremos um baita dinheiro. E ninguém sentirá falta deles.

Os lobistas da cultura sempre repetem que o estado precisa financiar arte, literatura, cinema. Precisa nada. Passamos perfeitamente bem sem isso tudo. Se os artistas quiserem, podem tocar sanfona na rua e arrecadar umas moedinhas.

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