domingo, 16 de setembro de 2007

Trágica, sim senhor



Trágica, sim senhor

Chamei outro dia a fila dos milhares de gaúchos inscritos para serem submetidos a cirurgias em Porto Alegre de "trágica".

O cirurgião Eliseu Paglioli Neto não concorda comigo: "Caro Sant' Ana. Gostaria de compartilhar contigo alguns pensamentos a respeito da tua coluna de 11 de setembro; que trata do problema da 'Fila trágica da cirurgia pelo SUS.

Eu acho que ter uma fila para atender os pacientes não é trágico: é ruim. 'Trágico é não ter fila alguma à disposição desses pacientes. É simplesmente não atendê-los".

É impressionante como podem duas pessoas pensar do mesmo jeito e discordarem. Doutor Paglioli, quando eu chamo de trágica a fila de cirurgias do SUS, é porque as pessoas não são atendidas.

Não pode, doutor Paglioli, uma pessoa que necessita qualquer cirurgia de urgência, seja nos ossos da articulação, seja no coração, seja vascular, não pode ficar esperando três ou quatro anos por uma cirurgia.

Por que eu chamo de trágica a fila, doutor Paglioli? Porque grande parte, a maior parte dessas 15 mil a 20 mil pessoas que estão na fila da cirurgia, vai acabar morrendo. Ou terá sua integridade física dilacerada. Por isso é que chamo de trágica, doutor Paglioli.

Continua o doutor Paglioli: "Como chefe do serviço de neurocirurgia do Hospital São Lucas da PUC, procurei compreender o que causou a insatisfação da Daiane Diedrich no atendimento de seu pai em nosso ambulatório na semana passada.

Ouvi o médico que atendeu seu pai e li o que ela publicou na tua coluna. Não me parece ter havido qualquer queixa quanto ao atendimento médico propriamente dito, mas sim, uma pesada crítica ao sistema de saúde de Porto Alegre.

Concordo totalmente com ela que é um absurdo completo um exame de diagnóstico, de ressonância magnética que poderá definir ou não a necessidade de uma cirurgia, demorar três anos para ser realizado. Isso na é medicina.

Agora veja bem o que ela escreveu: A Secretaria Municipal de Saúde de Lajeado realizou várias tentativas de encaminhamentos para a cidade de Porto Alegre, nesses quatro anos de luta, para realizarmos uma cirurgia pelo SUS, já que não temos condições de arcar com tal despesa.

A Secretaria Municipal de Saúde de Lajeado só consegue agendar consultas neurocirúrgicas em Porto Alegre e após quatro anos. E em todos esses anos não conseguiu que o paciente fosse atendido em Lajeado pelo SUS Por quê? Esta é a pergunta!

A Secretaria Municipal de Saúde de Lajeado também não conseguiu realizar um exame de ressonância magnética no Hospital Bruno Bom, apesar de este ótimo hospital colocar em seu site que atende pelo SUS, que tem aparelho de ressonância, e que os horários de realização de exames são das 8h às 12h e das 13h30min às 18h (avisam que o fone é 3710-1190).

Eu não estou querendo criticar esta postura 'telefona, coloca na ambulância e manda para Porto Alegre', que muitas secretarias de Saúde de cidades do Interior têm. Esta crítica é óbvia demais.

A minha queixa é que a tua coluna machuca quem está tentando fazer a sua parte, com respeito e dedicação ao paciente necessitado. A tua coluna machuca quem marca um exame para daqui a três anos (porque já tem centenas de outros agendados na frente).

E esta fila ocorre justamente porque ninguém mais quer atender esses pacientes pelo SUS. Aqui na PUC tem, sim, diversas filas trágicas da cirurgia (teu título da Coluna).

Nós tentamos fazer alguma coisa. Lá em Lajeado não tem fila alguma, pois o investimento dedicado a esses pacientes é em telefonemas para Porto Alegre. Pensa com carinho. (ass.) Dr. Eliseu Paglioli Neto".

Se a minha coluna machuca, doutor Paglioli, ela está atingindo o seu objetivo. É para machucar mesmo, não ao senhor, mas a quem criou e a quem administra e sustenta esse sistema do SUS que manda para Porto Alegre toda a montanha de doentes.

Que chuta para Porto Alegre todos os doentes do interior. E que aqui constrói uma fila, que afinal exime toda a responsabilidade sobre seus doentes.

E fica por isso mesmo e os doentes vão morrendo na fila , durante anos de espera. E o senhor não acha trágica esta fila, doutor? Ora, doutor.

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