sábado, 22 de setembro de 2007

Na terra da diáspora



22 de setembro de 2007
N° 15374 - Paulo Sant'ana(Luciano Peres - Interino)

Na terra da diáspora

Eles são pelo menos 2,6 milhões. São duas Porto Alegre inteiras. Gente que, como mostrou a recente série de reportagens de Zero Hora sobre a diáspora brasileira, encerrada na quinta-feira (para quem perdeu, basta procurar na internet, em zerohora.com), largou tudo, família, casa, emprego, para buscar uma vida melhor no Exterior, seja em um país mais próximo e familiar, como os EUA, seja do outro lado do mundo, na China ou na Austrália.

Depois de ler relatos como o do porto-alegrense Tiago Salim, radicado em Barcelona, na Espanha, desde 2005, do santa-cruzense Bruno Brendler, em Londres, na Grã-Bretanha, também há dois anos, ou de Jatir Delazeri, de Pouso Novo, desde a década de 80 nos Estados Unidos, não dá para deixar de sentir um certo desânimo.

Que país é este que força seus filhos a abandonarem seus lares para ganhar um salário um pouco maior, para poder ter uma vida um pouco mais confortável, para dar um futuro melhor a suas crianças?

Que país é este em que pessoas desesperadas arriscam a vida ou a liberdade, cruzando o inclemente deserto na fronteira México-Estados Unidos, submetendo-se aos esquemas perigosos dos coiotes, à exaustão da travessia, à falta de água?

Que país é este que afasta até muitos de seus cidadãos bem-nascidos, com curso superior e boa renda? Como o Brasil se transformou, de destino sonhado de imigrantes alemães, italianos, poloneses, japoneses e tantos outros, em exportador de gente?

Uma curiosidade que emerge da série é o fato de que nem sempre a questão econômica é o único fator levado em consideração na hora em que o brasileiro resolve fazer as malas, partir para o aeroporto e embarcar em um avião.

O medo da violência, a guerra civil que tomou conta das ruas das nossas cidades, o risco de ser assaltado e levar um tiro, tudo isso contribui para a decisão - e, às vezes, é a gota dágua que faz transbordar o barril de paciência.

Que o diga o porto-alegrense Salim, citado mais acima. Depois de ser vítima de dois assaltos em dois meses, de ter armas apontadas para sua cabeça e perder dois Fiat Marea Weekend para os criminosos, ele resolveu trocar a capital gaúcha pela Europa.

Quem vive em uma grande cidade brasileira, como Porto Alegre, São Paulo e Rio - ou até em uma média - , viu a questão da segurança pública se deteriorar nos últimos anos, mas gradativamente.

De modo que grades, cercas elétricas, carros blindados, não parar de noite no sinal vermelho, o passo apressado e o olhar temeroso em um local ermo, tudo isso não nos surpreende e parece ter feito parte desde sempre da nossa rotina.

Mas basta viajar para o Exterior, para uma cidade como Paris, Tóquio ou Montreal, para levar um choque de realidade. Como é bom andar por uma rua de madrugada, mesmo mal-iluminada, sem preocupação nenhuma em olhar para os lados e para trás, sabendo que o risco de ser roubado é mínimo ou zero.

Não é de se admirar que muitos dos brasileiros da diáspora se conformem com um emprego de menor qualificação e brilho no Exterior, se for este o preço a pagar pela tranqüilidade de espírito.

Mas não joguemos a toalha: este país tem solução. Eu, pelo menos, vou continuar apostando no Brasil, trabalhando aqui, torcendo para que todos os meus compatriotas possam melhorar de vida sem a necessidade de deixar a terra natal.

E não custa lembrar que há muitos em situação pior, muito pior. Não deixa de ser irônico que, no dia seguinte ao encerramento da série sobre a diáspora, tenham chegado ao Brasil 35 refugiados palestinos.

Depois de aproximadamente quatro anos confinados em um campo de refugiados no meio do deserto da Jordânia, convivendo com escorpiões e tempestades de areia, eles desembarcam cheios de expectativas, certos de que o Brasil será sua Terra Prometida. Que o Brasil seja a Terra Prometida para todos.

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