Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
quinta-feira, 27 de setembro de 2007
Dia de finados
Numa manhã especial, destas que não gostam de figurar em calendários de feriados ou de datas oficiais, resolvi, de repente, ir, sozinho, ao cemitério, para visitar os túmulos de meu pai, Alberto, que partiu cedo, em 1987, aos 67 anos de idade, e de meu irmão, Gianfranco, que, em 1996, nos deixou, mais cedo ainda, aos 47.
Levei flores, claro, passos e movimentos leves, pensamentos, preces, silêncios e lágrimas, energias positivas e lembrei de um amigo do meu irmão, o Volpe, que, no velório, com síntese bonita, disse que nessas horas é chorar e lembrar as coisas boas.
Dia de finados pode e/ou deve ser qualquer dia, qualquer hora, qualquer lugar. O 2/11 tem gente demais, barulho demais, carros demais, até flores demais.
Os falecidos preferem visitas em dias mais sossegados, atitudes mais discretas. Sábios, não estão nem aí para cerimônias, pompas, formalidades, agendas lotadas-apressadas e outras coisas passageiras do tipo. Para eles, como disse Mario Quintana, o tempo é só um ponto de vista dos relógios e amar é mudar a alma de casa.
Eles têm a eternidade e o amor da gente. Sabem muito bem que amar é sentir que o outro não morrerá. Tinha sol e frio naquela manhã, movimento, passarinhos, brisa, operários trabalhando.
Fiquei pensando que tinha muita vida por lá. Quando caminhava calmamente em direção à saída, feliz e em paz com minhas lembranças e satisfeito com minhas modestas atitudes anônimas, pensei que me afastava de lá melhor do que tinha entrado.
Aí notei, a algumas dezenas de metros, a chegada de um caixão acompanhado de quatro ou cinco pessoas.
Um rapazinho de uns catorze ou quinze, debulhando-se em pranto convulso, não parava de gritar: "Não vai mãe! Não vai mãe!" A paz acabou ali. O menino era negro, de família muito pobre, pelo visto, e me veio à mente o antigo ditado africano: mãe é ouro, pai é vidro.
Em respeito ao rapaz e aos demais, me afastei e desviei. Nem a estátua do Teixeirinha e as flores frescas que sempre tem lá me acalmaram ou distraíram. Saí com andar trôpego. Minha mãe ainda está por aqui, com quase oitenta.
Sempre vai estar. Assim como o choro e as palavras do rapaz, tão ou mais comoventes que as expressões das almas torturadas dos personagens dos filmes de Ingmar Bergman, só que concretos e ao vivo, na sessão das nove da manhã cemiterial. (Jaime Cimenti)
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