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sexta-feira, 14 de setembro de 2007
LEMBRANÇAS DA NOSTALGIA
Juremir Machado da Silva
LEMBRANÇAS DA NOSTALGIA
Cada escritor tem os seus truques literários. São obsessões que ressurgem em cada livro com maior ou menor eficácia. O truque de Mario Vargas Llosa é o reencontro.
Sempre há dois personagens que acabam por se reencontrar, gerando uma atmosfera de nostalgia e de balanço existencial. É assim no seu romance de estréia, 'A cidade e os cachorros'. Também é assim no seu livro mais célebre, 'Conversa na catedral'.
O mesmo acontece em 'A festa do bode' e em 'Travessuras de menina má'. Nem todos os reencontros são centrais. Mas todos produzem a mesma melancolia suave e tão concreta. É difícil saber por que um escritor nos toca mais do que outros.
Eu sei que García Márquez é um monstro literário transbordante de imaginação. Mesmo assim, sou arrebatado pela simplicidade de Llosa.
Tenho um amigo que ama Paul Auster. É um fabuloso escritor, sofisticado e engenhoso. Apesar disso, eu prefiro a crueza irônica de Michel Houellebecq. O Brasil inteiro adora José Saramago. Eu faço parte do time dos admiradores do seu rival, o pessimista Lobo Antunes.
Talvez esse seja o aspecto principal. Gosto mais dos niilistas. Vargas Llosa, porém, não pode ser rotulado de pessimista. Não, ao menos, como homem, embora os seus livros deixem escapar certa tristeza ou ceticismo. Conheci um sujeito que, embora estivesse longe de ser depressivo, tirava dias para a nostalgia.
De repente, num sábado qualquer, até mesmo ensolarado, declarava quase solene: 'Que belo dia para ficar nostálgico'. Recolhia-se para o seu canto e escutava as músicas mais adequadas, de acordo com a sua sensibilidade, para mergulhar numa atmosfera melancólica.
Nem todas as canções que ouvia eram tristes ou especiais. O seu repertório ia de Cartola, 'As rosas não falam', até Sidney Magal, 'A cigana Sandra Rosa Madalena'.
Certamente não era a coincidência de ter 'rosa' nas duas músicas que o atraía. Era, evidentemente, algo mais simples: lembravam a sua juventude perdida. Não, não estou falando de nenhum boêmio da terceira idade. Meu amigo ouvia essas canções numa jukebox do Bom Fim por volta de 1985, aos 30 anos de idade. Casou.
Na primeira vez em que resolveu ter o seu dia de nostalgia ouvindo Cartola e Magal, a mulher ameaçou divorciar-se, menos por causa de Cartola. Era a cigana Sandra Rosa Madalena ou ela.
Parada duríssima. Ainda não existiam MP3 e todas essas possibilidades de voltar musicalmente ao passado, brega ou não, sem incomodar os outros. Meu amigo cedeu.
Na última vez que ouvi falar dele, por intermédio de outro amante das jukebox da Osvaldo Aranha, soube que ele morava em alguma cidade de Rondônia.
Não se assustem, pois não pretendo escrever um romance para contar um reencontro fictício entre nós dois. Já contei tudo. Nem Mario Vargas Llosa tiraria algo importante dessa circunstância.
É verdade, no entanto, que meu amigo tinha um ponto em comum com o protagonista de 'Travessuras de menina má', um sujeito que, ao contrário de todos os sul-americanos da sua época, só queria morar em Paris, sem qualquer ambição de ser pintor, músico, escritor ou qualquer outra coisa importante.
O sonho do meu amigo era morar em Lisboa. Por quê? Nunca explicou direito. Talvez achasse um bom lugar para um dia de nostalgia ouvindo Cartola e Sidney Magal numa jukebox de Alfama. Quem sabe?
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