terça-feira, 18 de setembro de 2007

A alma do caso


JANIO DE FREITAS

A alma do caso

A soma dos ingredientes que mantêm o caso Renan é extraída da mediocridade em que o país mergulha

HÁ QUATRO MESES, pode-se dizer, Renan Calheiros é assunto predominante na vida nacional. O caos nos aeroportos em julho e a tragédia de Congonhas pareceram destituí-lo, mas rivalizaram sem a mesma força para resistir à voracidade do tempo.

Renan Calheiros permanece, sobranceiro, como assunto central, apesar de todos os dias posto pelo noticiário na iminência de licenciar-se, já que não se submeteu às notícias anteriores de sua renúncia iminente, sempre "segundo interlocutores". Algum sentido há de existir nisso tudo, muito mais forte do que a mecânica de interesses que junta 46 votos.

Renan Calheiros não é um político importante. Não tem liderança, não tem a expressão própria dos que detêm influência real no conjunto da política. Para pô-lo no seu tamanho não é preciso compará-lo com a expressão de Ulysses Guimarães ou Tancredo Neves, é suficiente notar que não lidera sequer uma corrente no partido.

Renan Calheiros não tem importância própria como presidente do Senado. Nessa condição, nada o favorece se comparado a seus recentes antecessores José Sarney e Antonio Carlos Magalhães.

Desempenha, no cargo, os papéis que lhe encomendam na Presidência da República, o que não requer, na acomodação preguiçosa do Senado, mais do que alguma esperteza manipuladora.

No dia-a-dia interno, nem uma palavra de inovação, nem um gesto parlamentar inteligente e superior, a distingui-lo do simples cuidado em não incomodar os privilégios e, na moita, aprimorá-los.

E, no entanto, é esse político assim minúsculo que se mantém há quatro meses como assunto predominante da vida nacional.

Mas claro, não poderia ser de outro modo: a soma dos ingredientes que criaram e mantêm o caso Renan Calheiros é uma porção, no seu estado mais puro, extraída da mediocridade em que o país mergulha, como se preso em areia movediça. É a mediocridade da mediocridade.

Rota

De Madri, Lula volta a perturbar a geografia, com a repetição, agora enriquecida, do aviso de que vai "dizer ao amigo Bush [...] não vamos admitir que a crise [dos Estados Unidos] atravesse o Atlântico e venha nos perturbar". É melhor não dizer. Se ela atravessar o Atlântico, não nos perturba. Vai bater na Europa.

Ponto final

O recurso judicial dos clubes Militar, Naval e da Aeronáutica, contra a promoção pós-morte de Carlos Lamarca e a indenização à sua família, é uma iniciativa que não merece restrições, exceto as de que possam ocorrer no Judiciário.

O apreço pela Justiça não figura entre as tradições militares brasileiras mais nítidas, como atesta o destino de sucessivas Constituições democráticas.

Sem que chegue a ser propriamente novidade, o recurso atual é a aceitação das regras vigentes acima de ímpetos que, mesmo sem as transgredirem de todo, poderiam querer desgastá-las.

Foi o que se viu em vários pronunciamentos, inclusive do Comando do Exército a propósito do aniversário do golpe de 64. A Justiça dirá o que deve ser ouvido sobre a promoção e, espera-se, ponto final.

Bem, depois de três dias fechado para balanço a Zero Hora amanhã estreará seu novo site que espero supra todo o desconforto provocado pela atitude. Com toda a tecnologia disponível, daria tranqüilamente para colocar um novo site no ar sem esses transtornos todos.

Enfim esperaremos até amanhã e que tenhamos todos uma ótima terça-feira. Aos aniversariantes de hoje o abraço e o desejo de saúde, paz e tudo de bom.

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