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quinta-feira, 20 de setembro de 2007
O gêmeo mau
20 de setembro de 2007
N° 15372 - Leticia Wierzchowski
O gêmeo mau
Por motivos de saúde, nas últimas duas semanas tenho acompanhado o desenrolar da vida de cima da minha cama. Uma coisa difícil para uma geminiana inquieta como eu, mas o lado bom é que a minha leitura vem sendo colocada em dia.
Ninguém me espera lá fora, e faz quase tanto tempo que não visito o elevador do meu prédio quanto a minha academia de ginástica.
Assim, a pilha de livros ao lado da cama, pela primeira vez em muito tempo, passou a diminuir ao invés de aumentar. Mas preciso confessar aqui que o ápice dos meus dias vem sendo mesmo o horário da novela das oito.
Normalmente, não costumo ver televisão. Eu só acompanho seriado em DVD, e o resto da programação é um mistério para mim.
Eu nunca vi um episódio de Os Normais (e só o fato de citar um seriado de cinco anos atrás é uma prova da minha ignorância televisiva), nunca vi A Grande Família, e não acompanho o Jô desde que ele saiu do SBT. Mas a novela das oito me pegou.
A novela das oito no Brasil, que na verdade é novela das nove mesmo (para um convalescente, uma hora faz uma diferença oceânica), pode explicar quase tudo na vida. Sempre tem uma avó, uma amiga, um vizinho, um colega de trabalho representado na novela das oito.
Até o marido da gente às vezes passa por lá. Até a gente mesmo. O nosso lado bom e o nosso lado mau está na novela das oito. Algo assim como a nossa parte Paula e a nossa parte Taís, as gêmeas de Paraíso Tropical.
O mesmo acontece por aí. Não precisamos ir longe, basta ir até a TV Senado - pois sim, minha convalescência sofreu sério abalo com a absolvição do Renan Calheiros. Todos aqueles senadores lá, legitimamente eleitos, e nenhum deles têm vergonha de enganar o povo brasileiro.
Acontece que a gente votou na Paula, e quem assumiu o mandato foi a Taís. Porque a única explicação para essa palhaçada é que cada um dos senadores que votaram a favor do Calheiros ou então se abstiveram de votar têm seu gêmeo bom e seu gêmeo mau.
O bom foi lá, subiu nos palanques por esse Brasil afora, prometeu e aconteceu. Eleito, o gêmeo mau veio e plim!, deu um sumiço no gêmeo bonzinho, assumiu o mandato e botou pra quebrar.
Todo gêmeo mau, como qualquer telespectador de novela sabe muito bem, tem o rabo preso e não pode se comprometer expondo-se a votar com a devida decência.
Mas há um consolo, que é o final da novela. Um dia, mesmo que daqui a muitos capítulos, nós chegaremos lá.
Todos os gêmeos maus vão pagar caro pelo que fizeram, e cada falcatrua, cada mentira, cada desilusão, cada desvio de verba vai ser levado em consideração na hora de definir o destino do personagem vilão. Quem não acredita que pergunte ao Gilberto Braga.
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