quarta-feira, 26 de setembro de 2007



26 de setembro de 2007
N° 15378 - David Coimbra


Detesto gente séria

Eu não sou um cara sério. Nem entendo como é que existe tanta gente séria por aí. Sobretudo as mulheres. As mulheres são muito sérias, a maioria nem gosta de piada e de jogo de palitinho.

Exemplo? Peguemos um tipo aleatório de mulher. Qualquer uma, só para provar como elas são sérias. Digamos... hmmm... qual poderia ser?... Uma vegetariana! Isso. Experimente falar para uma vegetariana o que um dia escreveu Alexandre Dumas Pai, autor de mais de 300 obras entre peças de teatro e romances, alguns imortais, como Os Três Mosqueteiros, O Conde de Monte Cristo e

A Rainha Margot. Pois bem. Alexandre Dumas era um amante da vida, da gastronomia e das belas mulheres. Um sábio, portanto. Sobre a dieta vegetariana, tascou:

"Não posso deixar de dizer que a salada não é absolutamente uma alimentação natural para o homem, por mais onívoro que seja este. Só os ruminantes nasceram para pastar folhas. A prova é que nosso estômago não digere a salada, uma vez que secreta apenas ácidos e que as folhas só se diluem por meio de alcalinos...".

Experimente recitar esse texto para uma vegetariana. Com mil brócolis, você será xingado como um cartola que levou seu clube para a segunda divisão. E por quê? Porque as vegetarianas levam o vegetarianismo muito a sério.

Elas se levam muito a sério, querem que toda a humanidade coma chicória, trabalham arduamente para tanto e, se alguém, brinca com isso, ficam ofendidas. Sei do que falo. Tenho sido xingado com denodo por vegetarianas do mundo inteiro só porque adoro comer cadáveres putrefatos de vacas.

Mas é justamente essa seriedade, muitas vezes túmida de boas intenções, que é a causa dos maiores males da humanidade. O fundamentalista, o belicoso, o intolerante, esses todos sempre são sérios.

Os sérios se metem em tudo. Até no que não é sério, como o futebol. O futebol não passa de um jogo, uma brincadeira. É feito para diversão, nada além. Mas aí vêm os sérios e tentam organizar o futebol. Inclusive no campo, onde a espontaneidade e a criatividade deveriam ser privilegiadas.

Resultado: o absurdo de alguns defenderem a agressão do Coelho no Foca, apesar desta frase parecer gozação. Mas aconteceu: eles defenderam a agressão, a grossura, o mau humor.

Desta vez os sérios foram longe demais. É preciso fazer algo a respeito. A sério.

Muito sabido Muito sabido

Os sérios baniram até os apelidos do futebol. Hoje os jogadores são chamados por nome e sobrenome. Exagero.

Lembro dos tempos de IAPI. Tinha o Zoreia, que nem era orelhudo, é que vivia usando uma camisa do Topo Gigio. E o Jorge, que virou Barnabé por ser parecido com o Barnaby Jones, detetive de TV. E o Barril, pequeninho e gordinho, e no entanto bom centroavante. Uma vez o Barril caiu de bicicleta e bateu com as partes pudendas na ponta de uma estaca de ferro. Coitado do Barril.

Ficou rolando no chão, até que enfiou a mão dentro dos calções a fim de apalpar o local magoado e... empalideceu como um Michael Jackson. Começou a berrar: - Cadêêêê??? Meu Deus, cadêêêê??? Cadêêêêê???

O Barril achou que tinha sido castrado na queda. Deve ter sido um momento de grande aflição.

Já o Cavalo tornou-se célebre por ser bem-dotado no quesito órgão reprodutor. Orgulhava-se de seu membro, tanto que lavava as mãos antes de urinar, alegando: - Dedo eu tenho dez...

Havia ainda o Mochila, que se chamava Protásio, então Mochila era bonito. E um, que não jogava, mas que lhe colaram um apelido curioso: Meia Longa. O apodo surgiu de uma propaganda de caderneta de poupança cujo jingle era: "Eu sou o Meia Longa, coelho muito sabido...".

Por algum motivo, alguém um dia chamou o cara, um baita negão que morava ali perto, de Meia Longa. Ele não gostou. Chamavam-no de Meia Longa e ele se enfurecia, saía correndo atrás, ameaçando de agressão. Para quê! Todos os dias, mas todos os dias nós íamos para baixo da janela dele, cantar:

"Eu sou o Meia Longa, coelho muito sabido..." Ele saía de casa bufando, gritando, imprecando, correndo atrás de nós, que despencávamos rua abaixo, rindo, rindo, rindo. Era divertido no tempo dos apelidos. Era divertido quando o futebol não era tão sério.

Vai lá!Vai lá!

Aquele trecho do Dumas que você leu lá em cima, no primeiro texto, publiquei-o bem mais alentado no livro que estou lançando hoje, na Livraria Cultura do Bourbon Country, a partir das 19h. "Jogo de Damas" é o título. A L&PM deu atenção especial à edição, ficou tri, creia. Ontem mesmo o Moacyr Scliar folheava o livro e repetia:

- Que bonito... Que bonito...Até porque as ilustrações, todas, são do craque Edgar Vasques. Vá lá, hoje à noite, me ver e ver o livro!

Nenhum comentário: