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sábado, 15 de setembro de 2007
O país dos importados
O país dos importados
Compras no Exterior crescem mais que as exportações e reduzem o saldo comercial. E agora?
MILTON GAMEZ
DESEMBARQUE Movimento nos portos brasileiros nunca esteve tão intenso
Saldo comercial diminuiu - As importações que mais cresceram
O movimento nos portos brasileiros nunca esteve tão intenso. Em agosto, as exportações chegaram a US$ 15,1 bilhões - novo recorde histórico - e as importações alcançaram US$ 11,6 bilhões. Ponto para o País, que mais uma vez exibiu um gordo saldo comercial, de US$ 3,5 bilhões.
Este excedente é essencial para engordar as reservas internacionais, já acima de US$ 170 bilhões, e blindar a economia dos choques externos, como aconteceu no mês passado durante o estouro da bolha imobiliária nos Estados Unidos.
Mas o que chama a atenção nos números divulgados pelo governo é o crescimento vertiginoso das importações. As compras lá fora estão crescendo muito mais que as vendas de produtos brasileiros no Exterior. O Brasil, cada vez mais, é o país dos importados.
Você, provavelmente, está entre os consumidores de produtos not made in Brazil. Em oito meses, o País trouxe mercadorias avaliadas em US$ 75 bilhões de países como Estados Unidos, China, Argentina, Alemanha, Nigéria e outros.
Os navios e aviões têm vindo cada vez mais carregados de máquinas e equipamentos, veículos, autopeças, tecidos, roupas, calçados, brinquedos, componentes e equipamentos eletrônicos, adubos, trigo e petróleo, muito petróleo (leia quadro).
A queda do dólar, de 8,2% no período, ajudou. A moeda americana, que fechou a R$ 2,138 em 2006, terminou agosto valendo R$ 1,962.
O fortalecimento do real e a pujança das importações refletem "o sucesso do Brasil", afirma o economista sênior do Banco Mundial, Eduardo Urdapilleta. "O Brasil está cada vez mais inserido no comércio mundial. As importações sinalizam que o consumo está crescendo, o que é bom para o País", diz ele.
Nas cinco semanas de agosto, houve aumento em todas as categorias de produtos importados. Os desembarques que mais cresceram foram os de bens de capital (42,7%), bens de consumo (30,5%) e matérias-primas e intermediários (29,3%).
Para o governo, é um bom sinal, pois tais importações têm permitido a fabricação de produtos com maior competitividade, inclusive para exportação.
"Mais de 71% das compras brasileiras no mercado internacional são para subsídio na indústria", afirmou Armando Meziat, secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, na segunda-feira 3. Isso é verdade para muitos setores.
A Embraer, por exemplo, é grande exportadora e importa a maior parte dos componentes que utiliza em suas aeronaves. O problema é que a verdade tem várias facetas e, no caso da balança comercial, alguns números são preocupantes.
Em agosto, as importações como um todo cresceram 26,9% em relação ao mesmo mês de 2006. Porém, as exportações aumentaram somente 10,5%.
Eis o dilema: o saldo comercial, um dos principais trunfos da política econômica do governo, encolheu 22,4% em agosto, se comparado com o mesmo mês do ano passado.
No acumulado desde janeiro, o excedente comercial caiu 8,1%, para US$ 27,5 bilhões. Se essa tendência continuar, o que pode acontecer? "Já vimos esse filme antes e ele não acaba bem", lembra o economista João Paulo dos Reis Velloso, ex-ministro do Planejamento.
Se nada for feito, o superávit comercial pode minguar até virar déficit no futuro. E as empresas dos setores mais afetados pela concorrência predatória de países como a China - especialmente calçados, têxteis e brinquedos - poderão fechar as portas ou transferir a produção (e os empregos) para a Ásia.
Para evitar um agravamento da situação, o governo deveria criar programas que aumentem a competitividade dos setores atingidos, recomenda Reis Velloso.
"E ver o que é possível fazer em relação ao câmbio", sugere. O câmbio flutuante, uma das âncoras da política econômica pós-1999, e a abundância de dólares na balança de pagamentos reduzem a margem de ação em Brasília.
"Tecnicamente, é o mais difícil dos problemas econômicos. Mas o assunto tem de ser acompanhado de perto e alguma coisa deve ser feita", afirma. Pelo que se viu até agora, desse mato cambial dificilmente sairá um coelho - nem mesmo importado.
Com reportagem de Márcio Kroehn e Ana Clara Costa
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