domingo, 16 de setembro de 2007

Perguntar não ofende


CLÓVIS ROSSI

Perguntar não ofende

MADRI - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva irritou-se sexta-feira, em Oslo, ao ser questionado sobre o comportamento do PT no caso Renan Calheiros. Queria que lhe perguntassem sobre a viagem aos países nórdicos.

Até entendo. Qualquer ser humano prefere falar das coisas boas da vida, mais ainda os políticos que dependem de propagar as coisas que acham boas para manter seus empregos ou o seu prestígio.

O jornalismo é o exato oposto. Fala preferencialmente das anomalias, pergunta preferencialmente sobre os problemas, aqueles que os políticos preferem deixar num cantinho, se possível mal iluminado, até porque sabem que, se mexer muito, cheira mal.

Com Fernando Henrique Cardoso acontecia a mesma coisa. Foram incontáveis as vezes, em suas viagens ao exterior, em que os malfeitos de sua gestão sugeriram perguntas aos jornalistas, em vez da viagem propriamente dita. Como Lula, FHC geralmente usava a clássica saída pela tangente, ao dizer que só falaria sobre problemas brasileiros no Brasil.

Lula até disse, anteontem, que, na volta, falaria "com carinho" sobre o caso Renan. Não o tem feito nem com carinho nem sem.
E a única vez em que falou, nesta viagem, usou um argumento truncado.

"Nós precisamos nos habituar a acatar os resultados das instituições", afirmou. É verdade. Mas é só meia verdade. Acatar, todo mundo acatou. Ninguém invadiu o Senado, Renan Calheiros não foi seqüestrado para ser obrigado a renunciar, nada disso.

Uma coisa é acatar, outra é discutir e debater o comportamento dos atores políticos em cada episódio. Perguntar sobre tal comportamento ao presidente ou a quem seja é, portanto, obrigação, seja em Oslo ou Botucatu. Responder também deveria ser, mas, no Brasil, prestar contas causa urticária na grande maioria dos políticos.

crossi@uol.com.br

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