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sexta-feira, 28 de setembro de 2007
28 de setembro de 2007
N° 15380 - Paulo Sant'ana
Compaixão do Nordeste
Zero Hora na contracapa e Diário Gaúcho na capa, ontem, mostraram, em municípios gaúchos diferentes, duas pessoas dentro de suas casas com água da chuva pela cintura.
São Sebastião do Caí estava submersa, a Grande Porto Alegre ficou inundada e, nas ilhas do Guaíba, a Defesa Civil procurava tirar desesperadamente de seus casebres os flagelados da nossa inundação.
Eu tenho reclamado do inverno que passamos este ano e até solicitei de modo patético na televisão que nunca mais alguém elogie na minha frente o inverno, não desejo jamais ouvir outra vez "gosto do inverno", isso soa como um sacrilégio depois que sofremos os mais duros infortúnios deste inverno trágico e inesquecível, um inverno que se originou no outono, se alastrou pelos maiores rigores do próprio inverno e agora enche de calamidades a primavera.
Nenhum dos tormentos da nossa cheia e do nosso inverno de emergências de hospitais lotadas de todas as pestes respiratórias se equiparam no entanto ao que estão sofrendo os nossos irmãos do Nordeste com a seca que os dizima.
Em Sergipe, os 143 municípios estão sob estado de emergência, no Piauí 1 milhão de pessoas estão sob calor inclemente, fome e doenças, o mesmo acontece no Maranhão. Os rebanhos vão sendo tomados de inanição, faltam água e alimentos, há sete meses não chove em vários municípios do Sergipe:
No meu Cariri
Quando a chuva não vem Não fica lá ninguém Somente a sorte ajuda
Se não vier do céu Chuva que nos acuda Macambira morre
Xiquexique seca Juriti se muda.
Com todos esses pertinazes males do inverno que tornam os gaúchos vítimas de uma epidemia de tosse que grassa por todo o Rio Grande, parecendo que descendemos dos macacos catarríneos, as gargantas latejando de dor com as faringites e laringites, nossas vicissitudes ainda assim não encostam nem de longe nos amargores da gente nordestina, as cisternas e as caixas-dágua vazias, as mesas sem alimentos, os animais domésticos e de campo jazendo esqueleticamente pelos caminhos.
Como foi cruel a natureza com nossos irmãos nordestinos. E podemos nós, gaúchos, nos considerar afortunados com a ambiência climática que age sobre nós, adversa, mas paradisíaca perto da que assola o Nordeste desprotegido de todos os governos.
Atrapalha-nos é verdade, no momento, o excesso de água, a inundação.
Mas temos de nos consolar: o fatal é não ter água.
Antes ela nos sobre que nos falte.
Assistimos ontem no Jornal Nacional a um lamentável bate-boca ofensivo e histérico entre os ministros Gilmar Mendes e Joaquim Barbosa, o relator do mensalão, na sessão do Supremo Tribunal Federal.
Depois desta, os incidentes periódicos do Sala de Redação são considerados debates de cursilhos.
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