quinta-feira, 27 de setembro de 2007



27 de setembro de 2007
N° 15379 - Luiz Pilla Vares


Profissão: perigo

A ditadura brasileira (e as de outras fronteiras) sempre esteve de marcação cerrada em cima dos jornalistas e, em muitos casos, não teve prurido em simplesmente matar: basta lembrar o caso célebre de Vladimir Herzog.

Mas a ditadura passou (e em outras fronteiras também), e os jornalistas estão teoricamente livres para escrever e investigar.

Mas apenas teoricamente, pois o capital também se sente livre para defender seus interesses (que são muitos). Entretanto, outro inimigo dos jornalistas entrou abruptamente em cena, com uma violência inaudita: os traficantes de drogas.

Custa crer que o barbarismo cometido contra Tim Lopes seja hoje apenas uma lembrança que o tempo vai apagando. Recentemente, Amaury Ribeiro Jr., do Correio Braziliense, sofreu atentado a bala.

Causa surpresa e indignação o fato de que a mídia não dê a devida atenção a esses casos de intimidação ou vingança. Estamos diante de um processo crescente de banalização do comércio de drogas e da ação dos traficantes que estendem seu poder paralelo, constituem suas próprias milícias e instituem sua "lei". Com isso, atingem diretamente o coração da sociedade e vão progressivamente corroendo o tecido social.

É claro que a mera repressão por parte das autoridades não é suficiente para deter a escalada. Inúmeras ofensivas já foram feitas, e o problema sempre reaparece e de forma cada vez mais ostensiva.

É chover no molhado repetir que há necessidade de medidas preventivas, que supõem ações integradas permanentes nos locais onde mais se desenvolveu e enraizou-se o tráfico.

Mas, acima de tudo, torna-se fundamental a indignação da sociedade, o que somente será possível se os órgãos da mídia nacional abrirem suas páginas, garantindo, ao mesmo tempo, proteção permanente para os seus profissionais envolvidos diretamente nas matérias investigativas sobre a corrosão que se verifica na sociedade a partir da extensão dos poderes dos traficantes,

numa rede com tendência a se amplificar. Imunizar parcelas cada vez mais vastas da sociedade com programas factíveis que transcendam as necessárias ações policiais.

Certamente, a questão educacional, através da arte como um lugar de convivência, do esporte e do lazer, é um elemento básico para desenhar um futuro, talvez utópico, para a infância e a juventude brasileiras. Mas não é hora de levantar a bandeira branca, e a profissão de jornalista ainda será sinônimo de perigo por bastante tempo.

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