Tarifaços e sangue-frio
A guerra comercial iniciada pelo presidente dos EUA, Donald Trump, requer atenção e cautela do Brasil. No sábado, o republicano anunciou a imposição de tarifas de importação de 25% para o Canadá e o México, de 10% para a China e ameaçou a União Europeia de ser a próxima da fila. Ontem, no entanto, firmou acordos com os governos mexicano e canadense que postergam por um mês o início das sobretaxas a partir do compromisso dos vizinhos de reforçar a vigilância nas fronteiras para combater o tráfico do opioide fentanil.
Outros aspectos da guerra tarifária de Trump devem ser considerados. As tensões com Pequim, no mandato anterior do republicano, forçaram a China a adquirir mais produtos agropecuários do Brasil, principalmente soja. Por enquanto, os chineses dizem que vão recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC), órgão que na prática está paralisado, em mais um sinal da crise do multilateralismo, e tem chances ínfimas de solucionar um contencioso como este. Em 2019, o gigante asiático, em represália, acabou sobretaxando a soja norte-americana.
Por fim, o Brasil deve ficar atento aos reflexos indiretos tanto da guerra comercial de Trump quanto da política de caça a imigrantes ilegais. Os tarifaços, se levados adiante, tendem a tornar produtos mais caros nos EUA e interromper cadeias de suprimentos. As deportações em massa devem restringir a oferta de mão de obra. Nos dois casos, o efeito é inflacionário, elevando as incertezas sobre o ciclo monetário norte-americano.
Nenhum comentário:
Postar um comentário