05 de Fevereiro de 2025
GPS DA ECONOMIA - Marta Sfredo
Sem justificativa para tarifar o Brasil
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem usado o que chama de "o porrete das tarifas". As regras internacionais da área só preveem aumento do imposto de importação em casos extremos, como quando há invasão de produtos estrangeiros - no Brasil, um caso recente foi o do aço vindo da China.
A "justificativa" que Trump costuma citar para ameaçar parceiros é o forte déficit dos EUA na relação com esses países. Isso significa que os americanos compram mais do que vendem para esses países.
No caso do Brasil, a série histórica mostra que há uma década ocorre o contrário: quem tem déficit com os EUA somos nós. Nunca foi muito alto - o maior foi em 2022, de US$ 13,9 bilhões (veja gráfico acima), mas se repete sem falha nos últimos 10 anos. Por isso, Trump não teria nem uma justificativa entre aspas para aplicar tarifas contra o Brasil.
No entanto, lógica e racionalidade nem sempre guiam as decisões de Trump. É preciso observar não são governos que definem o que os países compram e vendem. Claro, existem instrumentos para incentivar ou desincentivar, mas quem decide o que comprar no Exterior ou dentro do país são as empresas, diretamente, e os consumidores indiretamente.
Os EUA são o segundo maior parceiro comercial do Brasil, tanto em importações (15% do total) quanto em exportações (12% do total), mas produtos nacionais estão em 18º lugar entre os comprados por americanos, enquanto os americanos aparecem aqui em nono lugar entre os importados.
E as trocas ainda contêm certa ironia: o principal item de exportação do Brasil aos EUA é petróleo bruto (14% do total). Só que os EUA são os maiores produtores de óleo e gás do planeta. E se há um preço com o qual Trump não quer mexer é o da energia. _
Será Trump um tigre de papel, que ameaça mas não morde?
O que restou da guerra mundial comercial deflagrada por Donald Trump é um imposto de importação (tarifa) de 10% para todos os produtos da China vendidos aos Estados Unidos. Por enquanto: o governo de Xi Jinping reagiu impondo tarifas de 15% sobre carvão e gás natural liquefeito (GNL) e 10% sobre petróleo bruto, máquinas agrícolas, veículos de grande cilindrada e caminhonetes, que entrariam em vigor no dia 10.
Pequim ainda restringiu a exportação de minerais estratégicos para os EUA, como tungstênio e outros usados na indústria eletrônica, de aviação e defesa. E pouco antes do anúncio oficial das medidas em Pequim, Trump havia informado que teria um contato por telefone com Xi Jinping. Parece ser um novo sintoma do que o ex-secretário de Comércio Exterior Welber Barral diagnosticou como uso da "imprevisibilidade como mecanismo de negociação".
É a famosa "negociação com a faca no pescoço", que dá pouca margem de manobra aos países ameaçados, como ocorreu com México e Canadá, que aceitaram pedidos de Trump para evitar a aplicação das tarifas por ao menos um mês. Para Barral, é difícil que o presidente americano perca a credibilidade depois dos recuos exatamente porque o comportamento errático sugere que ele pode fazer qualquer coisa, inclusive nada.
Até nos EUA se começa a debater se Trump, afinal, seria um "tigre de papel" - expressão usada pela agência de notícias especializada em economia Bloomberg. Para analistas, os recuos "alimentam a crescente reputação do presidente dos EUA de parar antes de cumprir sua retórica agressiva quando se trata de comércio, usando as tarifas como tática de negociação".
Um dos problemas das ameaças de Trump é que, mesmo suspensas ou retiradas, provocam efeitos. Na segunda-feira, derrubaram as bolsas americanas e as moedas dos países-alvo, como dólar canadense e peso mexicano. Outro envolve efeitos negativos sobre a própria economia americana.
Conforme o jornal Financial Times, a intimidação de Trump pode incentivar uma "aliança antiamericana". Ao minar o acordo ocidental buscado para reagir ao crescente poder econômico e geopolítico da China, avalia a publicação referencial para o mercado, poderia "plantar as sementes de um grupo alternativo, formado pelos muitos países que se sentem ameaçados pelos EUA". _
Maior sequência de quedas do dólar
Pela primeira vez desde 19 de novembro de 2024, quando fechou em R$ 5,768, o dólar encerrou ontem abaixo de R$ 5,80, a R$ 5,771, resultado de queda de 0,76%. Foi a 12ª seguida, na maior sequência desde a criação do real. Mostrou alívio com os sucessivos recuos de Donald Trump na aplicação de tarifas e com o tom mais duro da ata do Comitê de Política Monetária (Copom).
No front externo, o que restou do que parecia ser a guerra mundial comercial de Trump foi a tarifa de 10% para a China - muito, mas nada perto do que se temia. No interno, a ata da reunião do Copom da semana passada, publicada ontem, indicou mais alta de juro para além da já sinalizada de 14,75% em 19 de março. O BC admitiu que a meta de inflação pode ser descumprida em junho. O efeito líquido é Selic maior, segundo os manuais. E o descumprimento previsto para a metade do ano é reflexo do início da vigência, neste ano, do sistema de meta contínua. Alonga o prazo de validade da meta e encurta o de entrega. _
Gigantes vão reciclar 10 mil toneladas de sucata ao ano no RS
Depois de unir negócios na Addiante, as gigantes gaúchas Gerdau e Randoncorp ampliaram a parceria para a economia circular. Fecharam acordo para reciclar a sucata metálica gerada pela Randoncorp, sobretudo a partir da montagem de carrocerias, operação que tem sede em Caxias do Sul.
O contrato prevê reciclagem de 10 mil toneladas de sucata por ano, o que corresponde a um terço do volume gerado pelas unidades da Randoncorp no país. Os resíduos industriais são coletados e transportados para a usina da Gerdau em Charqueadas, onde a sucata é reaproveitada na produção de aço, que pode ser vendido de novo à própria Randoncorp ou a outras empresas interessadas.
O restante do que é gerado pela empresa de Caxias do Sul, 20 mil toneladas de sucata, já é reaproveitado na fundição, processo para transformação de resíduos em subprodutos da indústria a partir da aplicação de metal aquecido e líquido sobre um molde. A Gerdau converte em aço cerca de 11 milhões de toneladas de sucata por ano. _
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