Decepção
Celso
Ming
30
de novembro de 2012 | 20h20
O
governo Dilma está sempre se surpreendendo com o fiasco da economia. Nunca é como
prevê, o que mostra que não controla o processo e só tenta entender o que deu
errado quando não há como reverter o passado.
O
ministro da Fazenda, Guido Mantega, por exemplo, passou semanas garantindo que “agora
a coisa vai”. E cravou suas apostas num avanço do PIB no terceiro trimestre (sobre
o anterior) de pelo menos 1,2%. Veio apenas metade disso.
O
governo vai fracassando também no seu plano de obter um excelente resultado no
quarto trimestre deste ano que se repetiria, como cocos da Bahia, nos
trimestres seguintes. Na vida como ela é, a economia chegará a 2013 com ainda
menos tração do que aquela com que os mais realistas vinham contando. Isso
significa que o tal avanço do PIB brasileiro, de 4,0% a 4,5% ao ano, vai sendo
indefinidamente adiado – embora Mantega redobre a aposta perdedora.
Os números
sobre a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), nome e sobrenome do
investimento, revelados nesta sexta-feira pelo IBGE, mostram um retrocesso de 2,0%
em relação ao segundo trimestre do ano e de 5,6%, ante o terceiro trimestre de 2011.
O setor produtivo está perdendo capacidade de semear e, portanto, não pode
mesmo colher.
Uma
a uma, as previsões reluzentes vão se frustrando e, assim, o setor produtivo
privado vai perdendo também a confiança. O empresário consolida sua percepção
de que tem coisa errada na estratégia adotada. Se isso é assim, ele não arrisca
e mantém o tal espírito animal dentro do armário. Os projetos de investimento
ficam adiados para quando as coisas começarem a dar certo.
O
governo Dilma já esgotou a sua capacidade de malhar os culpados pela estagnação:
a crise externa; o tsunami monetário e a guerra cambial, impostos pelos grandes
bancos centrais, especialmente pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos
Estados Unidos); os dirigentes políticos europeus, que insistem no ajuste
produzido pelo excesso de austeridade; o ataque predatório das economias asiáticas
ao mercado brasileiro; os banqueiros tupiniquins, o alvo da vez, tão
resistentes a destravar suas operações de crédito; o câmbio supostamente fora
de lugar; e os juros escorchantes.
O
desempenho do Brasil, em expansão do PIB e em inflação, é o pior entre os Brics.
A ênfase excessiva no consumo não leva a lugar nenhum. Não adianta criar
mercado interno com políticas distributivas. É dar milho aos bodes chineses. A
indústria nacional não consegue dar conta da demanda. Os números do PIB
divulgados nesta sexta-feira apontam para uma expansão do consumo das famílias,
em 12 meses, de 3,4%. E, enquanto isso, mesmo turbinada com reduções de IPI e
juros subsidiados, a produção industrial caiu 0,9%.
O
governo Dilma tem somente mais dois anos de mandato. Caso não promova uma rápida
virada no que vem fazendo, corre o risco de passar para a história como o que
mais prometeu e menos entregou. (Amanhã tem mais.)
CONFIRA
Aí está
a evolução de dois conceitos-chave para entender o baixo crescimento do PIB dos
últimos trimestres: poupança e investimento.
Foram
os bancos. O ministro Mantega atribuiu o raquitismo do PIB no terceiro
trimestre ao travamento do crédito bancário. As estatísticas do Banco Central,
de fato, apontam para queda nas concessões de crédito de 8,9%, no trimestre
terminado em setembro, e de 1,4%, em 12 meses. O que tem de ser perguntado é se
o segmento de crédito tem força para puxar para baixo todo o desempenho do PIB.
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