quinta-feira, 6 de dezembro de 2012



06 de dezembro de 2012 | N° 17275
PAULO SANT’ANA

Um brinde de champanha

Quando a gente escreve uma coluna como a de ontem, sobre o imbecil, deveria entrar em férias.

Em toda parte aonde fui, clínicas médicas, hospitais e barbearia, todo mundo me saudava pela sacada.

A coluna, modéstia à parte, foi bem elaborada. No primeiro tópico, quando eu escrevi que o locutor chamara de imbecis eu e outro colega, afirmei que ele acertara pela metade, o que poderia dar a entender que não era eu o imbecil. Foi um impacto.

Mas logo em seguida desfiz o impacto, declarando que eu era o imbecil.

E fui tecendo a trama, na intenção de no final revidar o ataque do locutor.

E consegui: chamei-me novamente de imbecil por ter dedicado uma coluna inteira a um locutor antiético e agressivo que me ofendera gratuitamente.

Matei diversos coelhos com uma só cajadada e fui saudado nas ruas pela felicidade da coluna.

Causou repercussão. Ponham-se no meu lugar e no lugar dos demais colunistas: quando a gente acerta na veia, tem de comemorar com champanha. Porque este é o nosso ofício. Ralamos para escrever uma boa coluna, ainda mais quando ela é leve como a de ontem foi.

Acertar no alvo, receber aplausos pela cidade em toda parte que fui, este é o supremo ideal de um colunista.

É que quem, como eu, já escreveu mais de 16 mil colunas em Zero Hora, acerta muitas vezes, erra outras tantas, faz colunas de mediano valor, até que em determinado dia do garimpo acha na peneira a grande gema, a ofuscante pedra como a de ontem, a crème de la crème. A gente fica inebriado de alegria e acha que penetrou no auge de seu ofício.

Depois passa algum tempo até que a gente marque um outro gol de placa. Por isso é que estou comemorando.

E também porque sei que é grande a curiosidade dos leitores em saber como o colunista reagiu ao seu êxito.

E quem é que não transborda de contentamento quando tem um triunfo profissional?

Eu acordei ontem alarmado com o estrépito dos efeitos provocados pela coluna.

E notem que a origem da coluna foi um simples e-mail de um leitor anônimo de Novo Hamburgo que ouviu o destampatório do locutor chamando de imbecis eu e um colega e me mandou mensagem, certamente ansioso para conhecer a minha reação.

Até que fui sereno. Perderia pontos se revidasse a agressão com palavras mais fortes.

Na verdade, deixei para o leitor o julgamento sobre quem é o verdadeiro imbecil.

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