05
de dezembro de 2012 | N° 17274
MARTHA
MEDEIROS
Otimizando a
corrida
Tarde
de sexta-feira, entro num táxi para me levar à oficina onde havia deixado meu
carro para a revisão. Estávamos descendo a Rua Salvador França quando uma moça
na calçada fez sinal – obviamente não viu que o táxi já estava ocupado. Mas o
motorista parou mesmo assim, enquanto me comunicava: “Vou descobrir para onde
ela vai, de repente é perto e levo as duas juntas”. Eu respondi: “Sinto muito,
mas vamos em frente”.
O
fominha pretendia recolher todos os passageiros que encontrasse e foi negociar
justo comigo, que nunca fui fã de jeitinhos.
A
explicação dele para sua atitude: “Dona, na Europa todos os taxistas fazem
isso. Nós somos muito atrasados. Eles são mais inteligentes que nós, por isso
são de Primeiro Mundo”.
Meu
caro Anselmo, Renato, Valdir ou seja qual for o seu nome: eles não são mais
inteligentes que nós – eles são mais organizados que nós, mais corretos que nós,
mais respeitadores que nós. Existem vários tipos de transporte coletivo:
lotações, ônibus, bondes, metrô. O táxi não é coletivo. Pode conduzir mais de
uma pessoa, mas faz viagens individuais. É assim que os táxis funcionam no
mundo todo: por corrida.
Em
tese, você está certo, seria um favor ao trânsito caótico das cidades se os
carros transportassem mais gente, e isso até pode acontecer de forma
consensual: duas pessoas aguardam no ponto, começam a conversar e descobrem que
estão indo para a mesma rua.
Podem
decidir compartilhar o táxi, é uma atitude civilizada. O que não pode é isso
ser decisão do motorista. Há regras que regulamentam cada atividade, e um
passageiro que pega um táxi sozinho tem o direito de seguir sozinho até seu
ponto de desembarque, sem ser coagido a rachar tarifas e negociar trajetos com
uma pessoa estranha recolhida no meio do caminho.
Claro
que cheguei em casa me sentindo a malvada da novela. Vá que a moça na calçada
estivesse, numa coincidência pouco provável, indo para a mesma rua que eu, que
economia faríamos. E eu poderia ter feito uma nova amiga. E o motorista de táxi
teria feito uma boa ação para a cidade. E todos dormiríamos felizes.
O
motorista estava com sua corrida garantida, mas quis emendar com outra: eu
sairia do carro, a moça continuaria a viagem, aí ele poderia recolher outro
passageiro, ela sairia no ponto desejado e esse outro passageiro seguiria
adiante, e assim o motorista manteria seu táxi constantemente ocupado, num
rodízio que otimizaria 100% do seu turno de trabalho.
Se
essa ideia for boa mesmo, que seja autorizada por lei, implantada e divulgada
pelos meios de comunicação, com segurança garantida aos usuários. A partir de
então, todos poderiam acenar para táxis ocupados, a fim de saber se o trajeto
que está sendo feito é o mesmo que eles pretendem fazer. Todo táxi viraria um
táxi-lotação. Prevejo uma bagunça, mas, oficializando, me adapto.
Enquanto
isso, sigo malvada.
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