15 de outubro de 2013 | N° 17584
LUIZ PAULO VASCONCELLOS
Hamlet
Hamlet é uma peça enigmática, política, violenta e
filosófica. Entre outras muitas características e qualidades. Uma peça que pode
ser representada em qualquer tempo e em qualquer lugar. E, cada vez que for
encenada, revelará algo importante do que está acontecendo naquela sociedade.
Esse é o segredo de uma grande peça. E Hamlet é uma grande peça.
Se for representada hoje no Brasil, mostrará de forma escancarada
o que nem desconfiávamos e que só agora ficamos sabendo graças a um anarquista
ambicioso e magnânimo hoje exilado em Moscou: que estamos sendo espionados.
Em Hamlet, todos os personagens são constante e
rigorosamente espionados, perseguidos, vigiados: Hamlet vigia Claudio, Claudio
vigia Hamlet, Polônio vigia os filhos, Laertes e Ofélia, além de vigiar Hamlet,
razão, aliás, pela qual é acidentalmente morto. Rosenkrantz e Guildenstern,
colegas de faculdade de Hamlet, vigiam o amigo, a mando de Claudio. E assim
indefinidamente. A razão dessa eterna vigilância é fundamentalmente política,
ou seja, a da conquista e manutenção do poder.
Claudio matou o irmão, que era rei, para apossar-se do
trono. Gertrudes, esposa do rei assassinado, casa-se com o cunhado para
preservar o poder. Hamlet, que era o herdeiro direto, é instigado pelo fantasma
do pai a vingar-se. Mas ele é um universitário renascentista que não acredita
mais em fantasmas.
Porém, acredita no teatro como forma de revelação da
realidade. Por isso, faz representar na corte uma peça que ele mesmo escreveu e
que reproduz a cena do assassinato do rei, seu pai, diante do que o rei
assassino não resiste e se entrega. E assim, de cena em cena, vai se revelando
que há algo de podre no reino da Dinamarca.
Ofélia aceita ser vigiada durante um encontro que mantém com
o príncipe por pura insegurança. Num universo predominantemente masculino – na
peça, só existem duas mulheres, ela e a rainha –, o que lhe resta senão o
suicídio?
Hamlet, por sua vez, quando fica sabendo como Claudio se
tornou rei, disfarça seus verdadeiros sentimentos sob o artifício da loucura.
Uma forma de fazer teatro na vida real. Afinal, há mais coisas entre o céu e a
terra do que sonha nossa vã filosofia, nos ensina Shakespeare no final do
primeiro ato.
A peça termina, como previsto, numa tragédia generalizada.
Todo mundo mata, todo mundo morre. Afinal, como diz Hamlet em suas últimas
palavras: “O resto é silêncio”.
Feliz Dia do Professor para você..
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