sexta-feira, 28 de abril de 2017



28 de abril de 2017 | N° 18831 
DAVID COIMBRA

Isis versus Bruna

Vi, na novela da TV, uma cena em que se confrontavam duas atraentes atrizes: a loira Bruna Linzmeyer e a morena Isis Valverde. Não prestei atenção aos diálogos, mas, pelo que compreendi, elas disputavam o amor de um rapaz, o filho do Fábio Júnior, que, por Deus, chama-se “Fiuk”.

Essa Bruna tem boca de Sophia Loren e olhos de Charlize Theron. É bonita, sem dúvida, mas de uma beleza estranha, levemente excessiva, suavemente agressiva. É muita polpa naquela boca, é muito azul naquele olho, e ela parece malvada.

Na verdade, acho que é de fato malvada. Prova: uma vez, assisti a um pedaço do programa do Serginho Groisman e ela estava lá. Na parte que vi, apresentava-se um desses youtubers que têm milhões de seguidores. Seu nome é ainda mais esquisito do que o do filho do Fábio Júnior: Whindersson. 

Ele fazia uma apresentação, espécie de stand up, e a Bruna aparecia sentada bem atrás. No começo, Whindersson imitou alguns cantores de quem nunca ouvi falar, e ela sorriu. Depois, ele começou a contar piadas. Bem. Aí a Bruna fechou aqueles lábios de gomo de bergamota poncã e não abriu mais. Não riu nenhuma vez. Nem um sorriso forçado, nem um esgar. O rapaz se esforçava, dizia besteiras, gozava de si mesmo, representava, e ela impassível, como se estivesse vendo uma sessão do Senado.

Aquilo foi me dando uma angústia. Não era possível que ela não desse uma risadinha, apenas por solidariedade. Mas nada. Zero.

Uma mulher que não gosta de piada. Desconfie de mulheres que não gostam de piada.

Então, essa era a loira da novela. Já a morena Isis era a própria brejeirice brasileira. Um pouco ingênua, mas maliciosa. Insinuante, mas infantil. Lindíssima em sua simplicidade. Na minha imaginação, estava de vestido de chita e pés descalços. Podia estar vestindo qualquer outra coisa, podia estar de paletó e gravata, só que a via como uma cabocla que só quer, só pensa em namorar.

Foi aí que suspirei: como seria bom se o mundo fosse assim esquemático. A frieza de olhos de mar da mulher europeia versus a lânguida morenice da mulher brasileira, o cálculo versus a intuição, o cérebro versus a emoção, a preparação física versus a técnica, a dureza versus a ginga, os certinhos versus os malandros.

Nós, claro, seríamos os malandros, nós sempre nos achamos malandros. Diga-me uma coisa: você já tentou ser malandro fora do Brasil? É curioso: o malandro brasileiro, quando se muda para a Europa ou para os Estados Unidos, deixa de ser malandro. Ele trabalha, ele vive sua vida, ele respeita os outros, ele cumpre regras. Que mágica geográfica é essa, que transforma a malandragem presuntivamente genética do brasileiro em ordem e progresso?

É que, olhando de longe, o brasileiro percebe que o Brasil é um país de otários. Os malandros são os mesmos, e são poucos: um Lula negando o inegável, um Emílio Odebrecht traduzindo propina por ajuda, um Renan Calheiros jurando que defende a democracia, esses e os amigos deles. Faz tempo que eles se cevam na nossa trouxice, nos elogiando e afagando. Dizendo que somos malandros.

Tomara que isso mude. Tomara que o brasileiro se torne mais certinho, mais duro, mais cerebral, mais calculista. O que, é certo, nos tornará menos otários.

Mas pode deixar a Isis Valverde com vestidinho de chita. Essa brejeirice fica como está.

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