quinta-feira, 27 de abril de 2017



27 de abril de 2017 | N° 18830
REPORTAGEM ESPECIAL


POLO NAVAL LUTA PARA SOBREVIVER

SEM ENCOMENDAS NOS ESTALEIROS, sul do Estado se mobiliza para recuperar parte dos 17 mil empregos perdidos nos últimos anos. Prioridade é finalizar casco da P-71, que está pela metade
O oceano de incertezas que cerca os estaleiros também ameaça pôr a pique o polo naval do sul do Estado. Após o ressurgimento há cerca de uma década, entre a euforia vivida até 2013 e o início do declínio marcado pela crise na Petrobras e a eclosão da Lava-Jato, um novo movimento ganha corpo para reemergir o setor, mesmo que longe da exuberância imaginada há não muito tempo.

No início de 2013, os estaleiros do país tinham na carteira 13 plataformas, 16 montagens ou integração de módulos, 28 sondas de perfuração e 26 petroleiros. Ao final do ano passado, eram somente 11 petroleiros e oito projetos de integração de módulos em andamento, segundo o Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval e Offshore (Sinaval). Mesmo com demanda bem menor, o esforço une agora estaleiros e fornecedores para que a estatal revise sua nova política de priorizar a encomenda de plataformas no Exterior, diretriz que sustenta ser baseada em custos menores e maior agilidade na entrega.

Os reflexos atingem em cheio os estaleiros gaúchos. Em Rio Grande, o QGI trabalha na montagem dos módulos das plataformas P-75 e P-77, dando trabalho a cerca de mil pessoas. Depois, nada à vista. No estaleiro Rio Grande, da Ecovix, há apenas cerca de 200 funcionários na manutenção da área após a Petrobras levar a construção de cascos para a Ásia e rescindir contratos. No EBR, na vizinha São José do Norte, são cerca de 2,2 mil envolvidos na montagem de instalação dos módulos da P-74. A tarefa deve ser concluída até o final do ano e não há perspectiva de novo contrato. Em 2013, eram mais de 20 mil empregados. Hoje, são menos 3 mil e há risco de todos serem perdidos.

A batalha entre os fabricantes nacionais e a Petrobras está centrada na encomenda de uma plataforma destinada ao campo de Libra, no pré-sal. A estatal quer liberação da Agência Nacional do Petróleo para ter zero de conteúdo nacional. Em tensa audiência pública, semana passada, no Rio, a empresa alegou que, se fosse feita no Brasil, o custo seria 40% maior e haveria risco de atraso – o prazo é de 38 meses.

Sindicatos dos metalúrgicos e das empresas, fabricantes de máquinas e estaleiros gaúchos ainda pressionam. Associado a uma companhia internacional convidada para a concorrência, o QGI tenta um quinhão. A Ecovix argumenta que tem pronto em Rio Grande mais da metade do casco da P-71, cujo contrato foi rescindido pela Petrobras, e teria condições para adaptá-la às especificações com custo menor. Apesar do histórico de atrasos, o vice-reitor da Universidade Federal do Rio Grande (Furg), Danilo Giroldo, presidente do Arranjo Produtivo Local (APL) Polo Naval e de Energia, vê sentido:

– A P-71 está dentro do dique seco, 55% pronta. A nossa estimativa é de que custaria mais R$ 200 milhões.

O histórico, porém, joga contra. Com contrato de US$ 3,46 bilhões, o estaleiro deveria entregar oito cascos entre 2013 e 2015. Apenas três foram concluí- dos, e com atraso somado de três anos.

Em entrevista à Rádio Gaúcha no início do mês, o próprio presidente da Petrobras, Pedro Parente, jogou um balde de água fria na esperança de retomar a atividade no estaleiro da Ecovix, ao citar os atrasos nas entregas dos casos. Reforçou ainda que a P-71 não terá uso pela Petrobras. Mas sinalizou que vê viabilidade na montagem de módulos para plataformas, como fazem hoje QGI e EBR.

O vice-presidente do Sindicatos dos Metalúrgicos de Rio Grande, Sadi Machado, diz que o principal motivo da mobilização é pela retomada da construção do casco que corre o risco de virar sucata. No sábado, os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff participam de ato na cidade. Uma frente parlamentar em defesa do polo naval foi formada e há expectativa de audiência com o presidente Michel Temer na próxima terça-feira.

caio.cigana@zerohora.com.br Rio Grande

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