segunda-feira, 3 de abril de 2017



03 de abril de 2017 | N° 18809 
DAVID COIMBRA

A última vez que falo em Bolsonaro

Tenho vários amigos inteligentes, entre eles o Marcelo Rech, o Potter e o Carlão Flech, que dizem que não devo criticar Bolsonaro, porque a crítica só faz Bolsonaro crescer.

Não concordava com eles. Tinha vontade de dizer a todos o que realmente acho do Bolsonaro: que ele é nada mais do que um homem sem imaginação, sem viço cultural, sem conteúdo, sem ideias.

Bolsonaro cresceu porque as pessoas, muitas vezes, acham que grosseria é sinceridade, que machismo é hombridade, que preconceito é autenticidade, que truculência é coragem.

As pessoas estão irritadas com o julgamento prepotente e neomoralista do politicamente correto, o que de fato é um erro, e reagem festejando o politicamente incorreto, o que é outro erro.

Até respondi para alguns leitores que me escreveram com educação (só para esses respondo) a fim de defender Bolsonaro das minhas críticas pretéritas. Disse o que pensava. E um deles, Sérgio Lucas, para minha surpresa, respondeu o seguinte:

“Outro dia, eu te critiquei porque você fez ‘campanha’ contra o Bolsonaro. Você me disse que ele era burro e tal e mais algumas coisinhas.

Pensei, analisei e neste mês de março o político deu uma entrevista para o Danilo Gentili.

Ouvi, pensei e analisei mais um pouco e ‘fiat lux’. Não é que você tem razão?

O cara não tem nenhum projeto importante para o Brasil, ele só vive de polêmicas e do nióbio.

E não, eu não estou sendo irônico com você”. O e-mail do leitor ganhou meu dia.

Mas, assim como ele, também sou suscetível a argumentos. Logo, concordo com meus amigos inteligentes: falar mal do Bolsonaro é tudo o que quer o Bolsonaro.

Não vou mais falar desse sujeito, portanto. Abrirei uma única exceção hoje. É que circula “nas redes” um vídeo que o próprio Bolsonaro fez, dias atrás. Ele está no aeroporto de Brasília e vê o juiz Sergio Moro ali perto, cercado de admiradores. Decide aproveitar o momento. Um assessor filma a cena, provavelmente com um celular. Bolsonaro manda que o acompanhe. Ele bufa atrás:

– Tá legal, tá legal. Bolsonaro abre caminho entre as pessoas e se aproxima do juiz. O assessor vai pedindo:

– Dá licença! Dá licença!

Os cidadãos, digamos, “comuns” vão se afastando. A ideia de quem faz o filme certamente é mostrar um encontro de gigantes, uma pororoca de campeões. Moro, sem perceber o que se passa, conversa com algumas pessoas e meio que já se despede, meio que já está saindo, quando Bolsonaro chega. Toca em seu ombro. Moro olha para ele. Bolsonaro bate uma continência frouxa. Moro acena rapidamente com a cabeça e se afasta, calado. Bolsonaro fica parado ali, olhando para a câmera, tentando sorrir e não conseguindo.

O que pode ser mais humilhante do que a bajulação frustrada?

Mas logo surge um cara com a camisa do Grêmio e pede para tirar uma selfie com ele e a vida segue, rumo ao desconhecido.

Ri muito desse vídeo. Estou rindo ainda. Mas o farei em silêncio. Serei inteligente como meus amigos inteligentes. Não falo mais do Bolsonaro.

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