11 de abril de 2017 | N° 18816
LUÍS AUGUSTO FISCHER
ORÇAMENTO PARTICIPATIVO
O prefeito Marchezan, conforme noticiou a Zero, vai desestimular o Orçamento Participativo. Pelo que entendi, o ponto dele é não acumular outra demanda às tantas já existentes. Talvez queira – vamos supor a melhor das intenções de sua parte – zerar tais compromissos. Mas foi possível depreender que não há exatamente simpatia de sua parte para com o OP. Pela sua trajetória política e suas escolhas, é claro que tem o OP como coisa da esquerda, de que ele quer distância.
No dia em que as manchetes anunciaram esse esfriamento do OP pelo prefeito da Capital, calhou de recebermos em Porto Alegre a Mele Pesti (se pronuncia mais ou menos melê pechtí), tradutora, estoniana, que está vertendo a seu idioma materno o excelente romance Barba Ensopada de Sangue, do Daniel Galera.
Dei carona para ela até o Campus do Vale, assisti a sua exposição sobre as dificuldades da empreitada, depois estive com ela no Sarau Elétrico, no Ocidente, onde ela leu um trecho do Galera em estoniano – perfeitamente enigmático para nós todos, mas um novo marco na vida do nosso Sarau, que de vez em quando tem esses momentos cosmopolitas que nos enchem de gosto pela vida, em sua variedade quase infinita.
Já no primeiro contato perguntei como estava a sua experiência brasileira – ela estava aqui com bolsa da Fundação Biblioteca Nacional, num programa de incentivo à tradução de autores brasileiros inventado nos governos anteriores e até agora longe da tesoura temeriana, que tanto gosto tem tido de acabar com bons programas culturais e educacionais.
Sim, ela estava gostando da visita, muito esclarecedora para seu trabalho. E naturalmente já sabia de Porto Alegre – por causa do Orçamento Participativo, que também sua cidade, lá no norte do planeta, adotou. E adotou explicitamente pelo exemplo de Porto Alegre, esta cidade que foi capaz de forjar uma prática de participação popular com força inédita (depois de Lajes e Pelotas, que haviam feito algo parecido, mas em escala e alcance bem modestos) e assim dar ao mundo todo um exemplo que os conservadores parecem não tolerar.
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