sábado, 22 de abril de 2017



22 de abril de 2017 | N° 18826 
DAVID COIMBRA

A peste negra

Sete séculos separaram Átila de Gengis Khan, mas eles tinham algo em comum: ambos se denominavam “O Flagelo de Deus”, e adoravam ser conhecidos assim.

Átila costumava se gabar:

– Eu sou o Flagelo de Deus. Onde pisa a pata do meu cavalo, a grama jamais volta a crescer.

E Gengis Khan, certa vez, depois de conquistar uma cidade, mandou reunir os habitantes apavorados e anunciou, com voz de trovão:

– Eu sou o Flagelo de Deus. Se vocês não tivessem cometido grandes pecados, Deus não lhes enviaria um castigo como eu.

Em seguida, mandou que os soldados passassem todos os cidadãos no fio da espada, o que ele fizeram com gosto.

Isso me leva a cogitar: que pecado teremos nós cometido para Deus nos enviar Renan Calheiros? Renan tem o poder da pata do cavalo de Átila: por onde ele passa, nada mais crescerá.

Mas, dos flagelos antigos, Átila e Gengis, qual seria o mais temível?

Acho que Gengis. Ele foi o maior conquistador da História, era cruel, arrojado, surpreendente e invencível. “Não existe prazer maior do que derrotar e perseguir o inimigo, montar seu cavalo e ultrajar suas mulheres e filhas”, dizia sempre.

Ultrajar, no caso, era violar.

Seguindo essa máxima do grande comandante, os mongóis de Gengis Khan se transformaram numa horda de estupradores. Só os russos que invadiram Berlim, em 1945, se igualaram a eles. Alguns historiadores afirmam que o Exército Vermelho cometeu 2 milhões de estupros na marcha para Berlim. É plausível.

Os mongóis de Gengis Khan passaram anos matando e estuprando, e por esse motivo razoável parcela da população europeia, hoje, tem traços asiáticos. Gengis, pessoalmente, possuiu tantas mulheres, que se transformou no homem com o maior número de descendentes da história do mundo. Há quem calcule que sejam 12 milhões os filhos de Gengis Khan. Mire-se no espelho. Você tem olhos amendoados? Vá que você seja um deles.

Mas Gengis Khan e suas hordas de bárbaros, sem saber, trouxeram para a Europa um horror muito mais letal do que o aço da espada e a ponta da lança: a peste negra.

A peste negra, ou bubônica, é transmitida pela pulga que vive no rato preto, um roedor diferente do que vive nas cidades atuais, que é o rato cinzento. Os mongóis tiveram contato com esse rato no sopé do Himalaia, foram infectados e levaram a doença com eles.

Muito depois disso é que navios chegaram aos portos italianos carregados de ratos e marinheiros infectados.

A peste negra, assim, espalhou-se pelo continente, matando aos milhões. Pelo menos um terço da população foi dizimada.

Estou contando tudo isso, acerca de Átila, Gengis Khan, estupros e peste negra, para chegar ao Brasil do século 21.

Imagine que os europeus conviveram com a peste, como nós convivemos com nossos políticos, por 500 anos.

Em meados do século 18, ocorreu um surto terrível no Leste. Os cientistas estavam começando a descobrir as origens do mal e deram alguns conselhos para as autoridades, que estabeleceram quarentenas e proibiram aglomerações, a fim de evitar o contágio.

Uma das maiores preocupações dos governantes era o hábito que o povo tinha de pedir proteção aos santos. Não que os governantes fossem contra a religião. O problema é que os fiéis se prostravam ante as estátuas dos santos e lhes beijavam os pés e as mãos, pedindo imunidade contra a peste. Vem um, beija, vai-se, aliviado, e logo chega outro e beija em cima do beijo e este é sucedido por um terceiro que beija também, e beijam quatro e beijam cinco e era beijo sobre beijo, saliva sobre saliva. Uma orgia de bacilos.

Depois de falar dessa orgia, chegarei ao Brasil. Mas calma. Só na próxima coluna.

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