sexta-feira, 14 de abril de 2017



14 de abril de 2017 | N° 18819
EDITORIAL

A ERA DA PROPINOCRACIA

Marcelo Odebrecht era um verdadeiro ministro informal da propina, que controlava governantes, parlamentares e autoridades diversas mediante suborno, auferindo em troca benefícios para sua empreiteira.

O depoimento do empresário Marcelo Odebrecht, líder supremo do esquema de corrupção que atinge as principais figuras políticas do país, entra para a história como um atestado, ao vivo e em cores, da desfaçatez e da desonestidade no exercício da administração pública e nas suas relações com a iniciativa privada. Neste episódio de infâmia, têm que ser incluídos os órgãos fiscalizadores. Todos falharam miseravelmente, deixando o país à mercê da delinquência organizada para roubar os recursos de todos.

Marcelo Odebrecht, pelo que se deduz de suas próprias revelações, era um verdadeiro ministro informal da propina, que controlava governantes, parlamentares e autoridades diversas mediante suborno na forma de doações legais e ilegais, auferindo em troca benefícios para sua empreiteira. É angustiante saber que um criminoso desse calibre, condenado a mais de 19 anos de prisão por corrupção, lavagem de dinheiro e associação criminosa, em breve será posto em liberdade por conta do acordo de delação premiada acertado com a Justiça. 

O desserviço prestado ao país pelo herdeiro da Odebrecht e por todos os demais corruptores é muito maior do que o eventual benefício decorrente das delações. Basta lembrar o quanto os recursos públicos desviados por meio de obras superfaturadas fizeram falta para programas sociais, para a saúde, para a educação e para a segurança. A cada caso relatado – e delatado –, surgem novas cifras, sempre na casa dos milhões, aumentando a perplexidade de quem supunha um mínimo de eficiência dos Tribunais de Contas, da Justiça Eleitoral e dos órgãos de controle internos das próprias estatais dilapidadas.

Considerando-se os danos causados ao país, as penas impostas aos autores de tantos delitos sempre parecerão brandas demais. O consolo é saber que o cinismo está sendo desmascarado e que delinquentes poderosos já não ficam totalmente impunes. Vale lembrar que já passaram pelas cadeias da Lava-Jato empresários, políticos, banqueiros, servidores públicos e outras pessoas que se imaginavam acima da lei. É verdade, também, que a maioria recuperou a liberdade mais cedo do que se poderia desejar, mas todos ficaram marcados pela exposição pública de suas ações nefastas.

Talvez não seja o fim da propinocracia que empresários desonestos e políticos corruptos implantaram no país. Mas é uma grande oportunidade para o Brasil virar esta página vergonhosa de sua história.

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