15 de abril de 2017 | N° 18820
ANTONIO PRATA
MEDITAÇÃO TRANSCENDENTAL. JURO.
Eu me conheço, eu sei como eu sou, eu sei como eu vou ficar. Foi assim na infância, com o aeromodelismo e a coleção de selos, foi assim na adolescência, com Campos de Carvalho e Monty Python, é assim hoje, com os filhos e a cerveja artesanal. Por isso, já vou avisando de antemão, pedindo desculpas à família, aos amigos e aos leitores: é bem provável que eu fique meio monotemático nos próximos meses, depois que começar a fazer meditação transcendental.
Sim, meditação transcendental. Maharishi. Mantra. Ohhhmmmm. A porra toda. Desculpe pelo “porra”. O Antonio de maio, o Antonio que fará meditação transcendental, sem dúvida evitará esses desequilíbrios. O Antonio de abril, porém, ainda é bem desequilibrado. Referir-se a si mesmo na terceira pessoa, inclusive, é sintoma desse desequilíbrio, como se eu (ele?) não vivesse dentro de mim (de si?), como se eu (ele?) me (se?) visse de fora, como se fosse o titereiro e o títere ao mesmo tempo e a consciência da ligação dos dedos de um (do outro?) com os membros do outro (do um?) me (nos) fizesse me (nos) enrolar todo (todos?) nas cordinhas.
A supradescrita inhaca, no entanto, acabará assim que eu começar a fazer meditação transcendental e aprender a derreter o ego e o superego e o id e o titereiro e o títere e as cordas e as contas e os trabalhos e o colesterol e a atualização do IOS e todos outros infinitos Es, duas vezes por dia, por 20 minutos, como se eu estivesse sob o efeito de um tarja-preta. Ou de um Black Label. Ou de ambos.
Se você acha estranho meditação transcendental, imagina eu, que sou ateu, compro briga em jantar por criticar homeopatia, sou expulso de piquenique por caçoar de astrologia e aceito como únicas provas da existência de algo próximo ao esoterismo as reações causadas por certos versos do Fernando Pessoa no sistema límbico e no córtex frontal.
Mais ainda: eu li Orientalismo, do Edward Said. Eu li Carma-Cola, da Gita Mehta, eu sei como o Ocidente olha para o Oriente há séculos em busca de algum trololó espiritual que resolva nosso murundu existencial, umas palavras, um barulhinho, um jeito de plantar bananeira com as pernas cruzadas por trás do pescoço que preencha o vazio que nos acompanha desde que decidimos jogar Zeus, Apolo, Dionísio, Sófocles, Ésquilo e Aristófanes no lixo e substituí-los por Quem Mexeu no meu Queijo?.
Acontece que meditação não é religião. Não é sobrenatural. Não requer fé nem incenso. Quem me convenceu a experimentar a meditação, aliás, não foi um senhor careca e sorridente enrolado numa manta alaranjada, mas um sujeito de jeans e Nike Air com um corte de cabelo igual ao do Tupãzinho (“O talismã da Fiel”), especialista em proporcionar aquele tipo de transe convulsivo mais conhecido como gargalhada: Jerry Seinfeld.
Eu vi o Seinfeld falando de meditação no YouTube: você vai num curso, aprende uns exercícios, depois senta numa poltrona e atinge um estado de relaxamento mais intenso do que o do sono. Vinte minutos mais tarde, você retorna calmo, concentrado, feliz e pronto para voltar a se azucrinar até a próxima meditação. Ou para tentar convencer todos a sua volta a experimentar. Peço desculpas de antemão caso eu fique um pouco monotemático, mas eu me conheço, eu sei como eu sou e tenho quase certeza de que essa calma vai me deixar eufórico.
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