Jaime Cimenti
Páscoa, Pessach, passagem para o renascimento
Páscoa é o melhor momento do ano para pensar em vida, morte, renascimento, renovação e futuro. Tirando os suicidas foras de si, alguns atletas de esportes radicais, algumas pessoas com doenças terminais, homens e mulheres abandonados por seus amores e os que se metem com mulher de atleta de FC, fundo ninguém quer a morte, só saúde e sorte, como está na eterna canção do Gonzaguinha. Melhor nem pensar na morte.
Ficar tipo menino assustado assobiando no escuro para disfarçar e espantar o medo. A ressurreição de Cristo é a eterna, milenar inspiração para a gente sacudir a poeira e dar a volta por cima, todos os dias, se for preciso. Para os hebreus, a Páscoa Judaica, o Pessach, está profundamente ligada com a saída dos escravos judeus do Egito, e seu significado maior é de passagem. O pão sem fermento, o osso de cordeiro, o ovo, as ervas amargas, o vinho e outros alimentos altamente simbólicos são utilizados para venerar os antigos e a história. Neste ano, em Porto Alegre, a celebração do Pessach, na cripta da Catedral Metropolitana, vai ficar na história.
Bonita ideia e que se repita, com todos os povos e religiões. Para os católicos, os ramos de palmeira, o cordeiro, o círio pascal, o peixe, os ovos e o coelho, especialmente, simbolizam com força a ressurreição de Jesus Cristo, e nos dão a ideia da eternidade e da circularidade da vida, especialmente pela natureza e formato do ovo. Neste mundinho em que estamos obrigados a estar e nesta vida-barca onde estamos juntos e misturados, queiramos ou não, pensar em passagem e renovação é questão de sobrevivência, mas deve ser, também, na medida do possível, razão de esperança e alegria. Nós morremos e vivemos toda hora, todo dia.
Quintana disse "minha morte nasceu quando eu nasci" e versejou que não sabia qual o dia do encontro definitivo com ela. A graça triste que é a vida, dor e prazer, alegria e tristeza, derrotas e vitórias, caminhos e descaminhos, mortes e vidas, perdas e ganhos e o infinito, principalmente na Páscoa, nos mostram que o presente, o momento e o aproveitamento dele com amor, alegria e esperança, é o que temos de melhor para fazer nessa passagem. Passagem que, para muitos, infelizmente, é muito rápida.
Mesmo os de 90 ou 100 anos acham que a vida é bela, mas que a passagem, ainda assim, é rápida. Pois é, tudo e todos merecem renascer, reflorir, principalmente o Internacional, o grande colorado campeão de tudo e mais umas outras coisas. Acho até que ele é vermelho em homenagem ao Mar Vermelho, que os hebreus atravessaram para deixar para trás a escravidão no Egito. Digo isso pois acho que o jornalista e cronista Paulo Sant'Ana registrou com propriedade a renovação do Inter. Ele disse que o Inter é uma entidade judaico-otomana. É verdade. Esse fato mostra que o Inter é ecumênico e que é um exemplo de união e paz. a propósito...
A feliz ideia do jantar do Pessach na cripta da Catedral Metropolitana é um ótimo exemplo a ser imitado e mostra como Porto Alegre, a açoriana ainda meio tímida, mas ousada - como são os tímidos de vez em quando - é palco para novidades boas. Diálogo, respeito, solidariedade, amor, igualdade, liberdade, fraternidade, ovos e peixes, disso precisamos nos alimentar, mesmo que a passagem seja curta e que não tenhamos a menor certeza se existe outros mundos e outras vidas.
Se ninguém voltou de lá para contar, acho até que é melhor assim. Boa Páscoa, a guite Pessach, paz, shalom e chocolate para todos, é o que desejo, aos meus renascentes leitores e aos que moram, renascidos, na memória do meu coração. - Jornal do Comércio
(http://jcrs.uol.com.br/_conteudo/2017/04/colunas/livros/556926-vinte-anos-essenciais-da-vida-brasileira.html)
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