sexta-feira, 14 de abril de 2017



14 de abril de 2017 | N° 18819 
CLÁUDIA LAITANO

Precisamos falar sobre Hannah

As fotos e o título sugerem que se trata de apenas mais uma daquelas séries adolescentes sobre as quais a maioria dos adultos nunca sequer vai ouvir falar, mas o assunto é grave e difícil de abordar sem afugentar o público. Adaptação de um best-seller lançado em 2007, a série 13 Reasons Why, disponível na Netflix desde o início do mês, é uma experiência dolorosa para espectadores de todas as idades. As 13 razões do título referem-se aos motivos pelos quais Hannah Baker, uma menina bonita, inteligente e adorada pelos pais, decide entrar em uma banheira e cortar os pulsos – desfecho trágico revelado desde os primeiros minutos da história.

Ao longo de 13 episódios, temas como bullying, real e virtual, invasão de privacidade, solidão, violência e abuso sexual são tratados de forma quase didática. Não há nada ali que seja estranho ao universo dos adolescentes, e a série tem levado muitos deles a refletir não apenas a respeito das próprias emoções, mas sobre o que um colega pode estar sentindo quando é alvo de piadas ou isolado socialmente. 

Se o sofrimento muitas vezes é silencioso, a crueldade pode ser alegre, expansiva, popular. Defender um colega que sofre bullying exige um tipo de coragem para contrariar o grupo que a maioria dos adolescentes, infelizmente, ainda não tem, mas a série mostra que a passividade e a indiferença diante do sofrimento alheio também podem trazer consequências.

Para os adultos, a série é nada menos do que devastadora. Não apenas porque o suicídio de um filho é insuportável até mesmo como ficção, mas porque a história toca em uma angústia comum entre pais de adolescentes: a dificuldade para equacionar o respeito à liberdade e à independência dos filhos com a proximidade e a intimidade necessárias para detectar um problema a tempo de interferir e oferecer ajuda.

Nos últimos dias, o sucesso da série tem levantado questões a respeito da possível romantização excessiva do suicídio e o perigo do chamado “efeito Werther”. Alguns especialistas acreditam que o tratamento dado ao tema poderia levar jovens vulneráveis a tirarem a própria vida, inspirados, de alguma forma, pela história de Hannah. Por outro lado, serviços como o Centro de Valorização da Vida, aqui e nos Estados Unidos, têm registrado um aumento significativo de jovens pedindo ajuda.

O certo é que a série tem o mérito de provocar adultos e adolescentes a conversarem sobre o assunto em casa. Muitas famílias, infelizmente, nunca tiveram essa oportunidade.

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