24 de abril de 2017 | N° 18827
EDITORIAIS
O SEGUNDO ACIDENTE
Pela segunda vez em poucos meses, o presidente Michel Temer utiliza a palavra “acidente” para definir ocorrências que nada têm de acidentais – e que certamente mereciam uma interpretação mais realista do comandante do país. Em janeiro, ele disse que o massacre de 60 presos numa cadeia de Manaus foi “um acidente pavoroso”.
Na ocasião, depois de receber muitas críticas pela escorregadela verbal, ainda tentou justificar o equívoco, publicando numa rede social vários sinônimos para a palavra mal empregada. Agora, em entrevista concedida à agência espanhola EFE no último sábado, Michel Temer assegurou que investidores nacionais e estrangeiros não vão parar de investir porque houve “um acidente desta ou daquela natureza, uma delação de alguém”.
Ora, a corrupção não é um acidente. As delações da Odebrecht e todas as demais conhecidas no contexto da Operação Lava-Jato nada têm de acidentais. Resultam, acima de tudo, de condutas voluntárias de governantes, parlamentares e empresários responsáveis pela maior roubalheira de dinheiro público de que se tem notícia no país. Os investidores estrangeiros e também os nacionais certamente se preocupam com isso, sim, até mesmo porque a própria governabilidade está ameaçada pelas investigações.
Se há algo que não pode ser minimizado neste confuso país, é essa operação de combate à corrupção. O Brasil precisa, sim, dos investimentos que ajudarão nossa combalida economia a se recuperar. O governo Temer está dando uma contribuição importante nesse sentido, com uma equipe econômica competente e bem-intencionada, que vem fazendo um grande esforço para não ser contaminada pelas mazelas políticas.
Neste contexto, a palavra acidente soa totalmente inadequada, por mais sinônimos que se procurem para justificá-la.
O DESCASO COM A BR-116
O martírio enfrentado diariamente por usuários da BR-116, relatado na edição de fim de semana de Zero Hora, chama a atenção para o custo humano do atraso na duplicação da rodovia no trecho entre Eldorado do Sul e Pelotas. O policial rodoviário habituado a enfrentar acidentes graves devido a colisões frontais e o caminhoneiro familiarizado com os perigos da pista, citados na reportagem, são apenas alguns exemplos significativos dos milhares de danos pessoais resultantes do descaso com essa importante via de acesso ao sul do Estado. E, com seus dramas, reforçam a necessidade de líderes gaúchos intensificarem os esforços para a superação do impasse que, hoje, mantém a continuidade das obras como uma incógnita.
O Rio Grande do Sul não tem como se conformar que uma rodovia tão essencial para o deslocamento de pessoas e o transporte de cargas, em grande parte direcionadas a Rio Grande, caia no esquecimento. A indignação é maior ainda pelo fato de que o atraso não se deve apenas à falta de verbas orçamentárias, encurtadas pela crise. A paralisação do projeto é resultado também de má gestão, como se constata pelas sucessivas interrupções nas obras, que já deveriam estar concluídas há muito tempo.
A situação de colapso enfrentada cotidianamente é uma razão consistente para que líderes gaúchos das áreas política, comunitária e empresarial fortaleçam a luta pela retomada imediata da duplicação. É inadmissível que o Estado continue perdendo tantas vidas e registrando tanto prejuízo financeiro pela incapacidade dos gestores públicos de concluírem um empreendimento essencial na área de infraestrutura.
Nenhum comentário:
Postar um comentário