quarta-feira, 26 de abril de 2017



25 de abril de 2017 | N° 18828 
DAVID COIMBRA

Você se acha grande?

Fidel Castro tinha três filhos de nome Alexandre, ou quase: Alex, Alexis e Alejandro. Isso porque uma das figuras históricas que ele mais admirava era Alexandre Magno.

Nada de novo. A admiração por Alexandre é comum entre homens ambiciosos. A maioria dos que foram ou ansiaram se tornar conquistadores espelhava-se nele, desde Júlio César até Napoleão, chegando ao seu xará do século 21, o flamante ministro do STF Alexandre de Moraes.

Natural, porque Alexandre, além de invencível, refletia sobre suas vitórias. Era um conquistador-filósofo, discípulo de Aristóteles, amante da sabedoria. Alexandre vencia não apenas pela força bruta e pela ferocidade. Vencia porque pensava. Havia uma razão para seu sucesso, e a razão era a forma como ele se comportava. Eram as suas atitudes perante os desafios dos dias.

Uma delas: quando Alexandre estava na iminência de conquistar o império persa, o rei Dario III, sabendo-se perdido, propôs um acordo: as hostilidades cessariam imediatamente, e Alexandre ficaria com metade de tudo o que tinha a Pérsia.

O general macedônio Parmênio, ao saber da oferta, disse:

– Eu, se fosse Alexandre, aceitaria.

Ao que Alexandre olhou para ele com algum enfaro e respondeu:

– Eu, se fosse Parmênio, também aceitaria.

E recusou, respondendo a Dario III com uma pergunta: “Por que eu deveria aceitar metade se posso ter tudo?”.

Assim é o conquistador. Ele vai lá e pega.

Alguns poucos têm essa forma desassombrada de encarar a existência. Digo que esses são centroavantes na vida.

As mulheres mais lindas, as mais deslumbrantes, as mais desejáveis costumam reclamar que não são abordadas. “Os homens têm medo de mim”, miam, detrás de seus olhos de gatas.

E é verdade. Muitos homens temem mulheres bonitas demais. Mas não Roger Vadim, ah, não. Roger Vadim teve várias mulheres belíssimas, entre elas Catherine Deneuve, Jane Fonda e Brigitte Bardot, as três no desabrochar da juventude. Mais: depois que ele se separou delas, elas continuaram gostando dele, falando bem dele e até no enterro dele foram chorar juntas. Que enterro glorioso foi o de Roger Vadim. Um enterro que vale uma vida.

Roger Vadim era diretor de cinema por profissão e centroavante por atitude. Roger Vadim não tinha medo de ser feliz, e por isso o foi.

Pedro Rocha tem. Pedro Rocha é jogador cheio de ótimas qualidades. É dono de habilidade, velocidade, inteligência, movimentação. É dono de tudo o que se precisa ter para ser craque. Mas tem medo de ser feliz.

Domingo passado, no fim do jogo contra o Novo Hamburgo, eram ele e o goleiro dentro da pequena área, bastava chutar com vontade e fé para que a bola entrasse sem apelação, mas ele tremeu, passou para o lado, e o zagueiro tirou.

Do outro lado, no Inter, havia D’Alessandro. É jogador de técnica apurada e entendimento da partida, sim, mas sua maior virtude é o destemor. D’Alessandro não admite perder, e por isso ganha. Contra o Caxias, perturbou o adversário, intimidou o árbitro, agitou o torcedor e, sozinho, segurou um resultado que o interessava.

D’Alessandro é centroavante na vida. Pedro Rocha ainda não. Pode vir a ser. Mas, para isso, terá não apenas de fazer coisas grandes. Terá de, como Alexandre, sentir-se grande.

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