24 de abril de 2017 | N° 18827
CÍNTIA MOSCOVICH
O DEVER DA MEMÓRIA
Hoje, 24 de abril, às 10 da manhã, sirenes soarão em Israel. O tempo prosseguirá sem as pessoas: os carros ficarão parados no meio das ruas, os pedestres cessarão a marcha, os estudantes abandonarão seus temas, comerciantes, feirantes, garis, contadores, advogados, soldados, agricultores, todos ficarão de pé, em silêncio de contrição por dois minutos, em respeito ao Yom HaShoah, literalmente “Dia do Holocausto”, em lembrança ao genocídio nazista que matou seis milhões de judeus, além de outros muitos milhões de homossexuais, negros, ciganos, amputados e incapacitados – ou assim julgados – de todas as espécies.
Estabelecido em 1953 com a chancela do então primeiro-ministro David Ben-Gurion e do presidente Yitzhak Bem-Zvi, o Yom HaShoah é marcado com eventos pelo mundo. Talvez o mais impactante deles seja A Marcha da Vida, no qual milhares de estudantes de ensino médio de variadas nacionalidades, judeus e não judeus, realizam uma caminhada até o campo de concentração de Auschwitz, em desagravo às Marchas da Morte realizadas pelos nazistas.
Mesmo com uma onda de antissemitismo que só faz aumentar (ou talvez por isso mesmo), os judeus recordam há quase seis mil anos. Usam a quipá, aquele chapeuzinho que os católicos adotaram como elemento da indumentária eclesiástica, para nunca esquecer que Deus está acima de tudo. Acendem as velas no sétimo dia da semana, o Shabat, para lembrar que Deus descansou.
Passam dias comendo em cabanas para lembrar e agradecer a proteção divina. Rezam em direção a Jerusalém, cidade em que está o Muro das Lamentações, para lembrar do Segundo Templo. Constantemente reverenciam e homenageiam aqueles que partiram: não estão mortos os que são lembrados. Memória, sempre a memória.
Proponho que, ao longo do dia de hoje, busquemos pausas de lembrança pelos que foram mortos porque eram judeus ou porque não coincidiam com o padrão da raça pura. Como cidadãos de um país que tem memória curtíssima, proponho que lembremos daqueles que morreram porque eram a parte mais frágil nessa bagunça permissiva e debochada em que se tornou a vida nacional.
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