17 de abril de 2017 | N° 18821
EDITORIAL
A CONTABILIDADE DO SAQUE
Tudo indica que a contabilidade do saque reflete uma realidade que precisa ser corrigida, consertada e exorcizada pela punição rigorosa dos saqueadores.
O estarrecedor relato do executivo responsável pelo Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht, Hilberto Mascarenhas, revelando que o departamento da propina da empreiteira pagou aproximadamente US$ 3,37 bilhões (R$ 10,6 bilhões) a políticos, governos e servidores corruptos entre 2006 e 2014, dá uma dimensão da roubalheira perpetrada contra o povo brasileiro.
Se for levado em conta que esse número se refere apenas aos recursos movimentados por uma empresa em financiamento de campanhas eleitorais, propinas, pagamento ilegal de obras e serviços no Exterior, dá para concluir que os prejuízos do país são incalculáveis, pois dezenas de outras organizações agiam de forma semelhante nas relações com os governos em todos os níveis da administração pública. O Grupo Odebrecht, fazendo jus à sua condição de líder entre os saqueadores, contabilizou detalhadamente os valores despendidos na compra de consciências, de votos e de decisões políticas dos traidores da pátria.
A delação do ex-diretor é um verdadeiro atestado de infâmia. De acordo com Mascarenhas, a área sob seu comando fazia duas formas de pagamentos: em espécie no Brasil e em depósitos bancários em contas no Exterior. O suborno – tudo era suborno, até o alegado crime menor chamado caixa 2 – era materializado em pacotes de dinheiro, entregues em locais predeterminados. As transferências bancárias fora do país eram feitas a partir de offshores, para mascarar os recursos não declarados.
Outro executivo do departamento de propinas da Odebrecht, o delator Luiz Eduardo Soares lança luz sobre um episódio nebuloso da política no país, ocorrido em 2006, na disputa pela Presidência entre o tucano José Serra e o petista Luiz Inácio Lula da Silva. Na ocasião, a Polícia Federal apreendeu grande quantidade de dinheiro, em maços de dólares e reais, com dois militantes petistas que pretendiam comprar um dossiê falso contra o candidato do PSDB.
Lula, na época, minimizou o episódio, classificando-o como ação de “um bando de aloprados”. Nunca ficou clara a origem do dinheiro. O depoimento de Soares esclarece que se tratava de um acordo entre a Odebrecht e a cervejaria Itaipava, para lavar dinheiro e irrigar o caixa 2 dos políticos.
As planilhas da Odebrecht documentam esse e muitos outros episódios degradantes da política brasileira, com nomes, números, apelidos e impressões digitais. Se fosse tudo invenção de alguma mente criativa, como argumentam investigados, teríamos no país um prodígio de imaginação digno de Nobel de ficção. Infelizmente, tudo indica que a contabilidade do saque reflete uma realidade que precisa ser corrigida, consertada e exorcizada pela punição rigorosa dos saqueadores.
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