quinta-feira, 20 de abril de 2017


20 de abril de 2017 | N° 18824
ARTIGO

O INVEJOSO


É mesmo curiosa essa fauna que povoa nossa ciberesfera, a blogolândia, as tais mídias sociais. Há de tudo um pouco: melancólicos admiradores da natureza, fascistas (de esquerda e de direita), religiosos (querem a todo pano te convencer das benesses celestiais), místicos (com seus tratamentos miraculosos e receitas holísticas), histéricos, carentes (que passam mostrando detalhes de sua intimidade, como se ela interessasse). Mas, de todos, o que mais me parece nocivo é o invejoso.

Porque fascistas, histéricos, carentes, religiosos e místicos têm uma qualidade: são sinceros. Acreditam mesmo naquilo que pregam. Já o invejoso nutre um objetivo, consciente ou não: te botar para baixo. Ele não acredita – nem sequer nele – e, até por isso, quer que os outros tampouco acreditem no sucesso alheio. O negócio dele é falar mal. O sujeito vê uma postagem daquela guria alegre, que despertou convicta de que o mundo pode ser melhor, e bota areia nos sonhos dela. Lembra de assaltos do cotidiano, dos riscos de acidente. Chama de babaca a sonhadora e dela desdenha.

Esse é do tipo tosco. Existem aqueles mais sofisticados, invejosos com cultura, que já foram alguém ou tiveram seu tempo de notoriedade. Pensam ter ainda mais motivos para detestar o sucesso alheio. Como já não encantam ninguém, o seu prazer é difamar os bem-sucedidos, manchar a sua imagem, espalhar pregos pelo caminho. Esvaziar esperanças.

Alguém foi premiado na carreira? Ah, mas só pode ser coisa de quem tem amigos no júri...

Alguém foi promovido? É porque vive de tapinha nas costas do gerente.

Alguém construiu uma grande casa ou fez uma grande viagem? Roubou, só não vê quem não quer...

O invejoso talentoso acredita que sempre fez mais e melhor, antes que os outros. Sabe aquela viagem cuja foto você postou, contente, no Facebook ou no Instagram? O invejoso tira sarro. Diz que publicar fotos de turismo é coisa de babaca (exceto as dele). A viagem? Ele fez nos anos 70...

O filme que alguém comentou? Ele já viu e, óbvio, não gostou, não sabe por que tantos comentam ou, pior, encontra algo para discordar. Quem sabe, ao discordar, alguém repare nele... Aquela reportagem? O invejoso já fez antes. Melhor, claro.

O invejoso só não suporta, mesmo, uma coisa: que o deixem falando sozinho. Ignorem seus venenos. É nesses momentos, afinal, que ele toma consciência da sua sofrida insignificância. Por isso, não hesitem em mostrar seus êxitos. Mostrem suas façanhas e seus passeios. Curtam suas fotos. O invejoso passará. Vocês, passarinho.

Repórter especial de Zero Hora humberto.trezzi@zerohora.com.br

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