sexta-feira, 14 de abril de 2017



14 de abril de 2017 | N° 18819 
NÍLSON SOUZA

A MAGIA DA LEITURA


Aprendi a ler antes de entrar na escola, por uma razão muito simples que nada tem a ver com inteligência ou dotes especiais: queria entender gibis, que era como chamávamos as revistas de quadrinhos naquela época. Meus irmãos mais velhos, que já estavam na escola, deliciavam-se com as aventuras de Tarzan ou Gene Autry, enquanto eu ficava por fora. Até que um dia debrucei-me sobre uma revista O Cruzeiro e decifrei o código da escrita. Foi um deslumbramento.

Nessa historinha pessoal, está um dos principais dilemas da educação em nosso país: como acelerar o letramento de crianças que não vêm de um ambiente alfabetizador. Ter pais que leem, ter livros em casa, ter contato com textos digitais, receber estímulo para ler e escrever, frequentar uma escola infantil são pré-requisitos que, infelizmente, não estão ao alcance de todas as crianças. 

Por isso, a diferença entre alunos da rede privada e da rede pública é tão acentuada. Não é incomum que as crianças das escolas estaduais e municipais, especialmente nas regiões Norte e Nordeste, cheguem ao terceiro ano sem dominar minimamente letras e números. E o pior é que esse atraso na leitura e na escrita compromete toda a formação desses alunos.

O governo tenta corrigir o problema por decreto, ao incluir na nova Base Nacional Comum Curricular a obrigatoriedade de alfabetização até o final do 2º ano, quando a criança na idade certa de aprendizado terá sete anos. A questão é como fazer isso. A chave, evidentemente, está no professor. E o primeiro passo, como ensinam os melhores educadores, é acreditar que o aluno pode aprender.

Todos podem, garante a professora Esther Grossi, que nos próximos dias celebrará o seu aniversário com uma aula pública no Salão de Atos da UFRGS. Cabe ao professor criar estratégias pedagógicas que facilitem a apropriação da linguagem escrita pelas crianças. E cabe ao poder público capacitar esse professor, dar-lhe condições dignas de trabalho, garantir um ambiente alfabetizador também na escola, por mais humilde que seja.

Ler é mágico. Mas ninguém a­prende por magia.

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