quinta-feira, 13 de abril de 2017



13 de abril de 2017 | N° 18818 
PIANGERS

Ame-o ou deixe-o

Estou tentando me acostumar com a possibilidade de Jair Bolsonaro ser presidente do Brasil. Acredito que, a não ser que alguma coisa muito diferente ocorra nos próximos 18 meses, Bolsonaro é o candidato mais forte para o pleito nacional em 2018. Fortalecem a eleição do Messias esse clima de insegurança descontrolado que atinge quase todo o território nacional, o fato de o candidato trabalhar mídias sociais como nenhum outro, a simpatia que vem adquirindo entre jovens de classe alta, o discurso politicamente incorreto que acalenta boa parte da população que quer poder dizer o que pensa e, por último, a ausência na disputa de nomes que não tenham ligação com casos de corrupção.

Estou me acostumando com a ideia, pois é o que vai ocorrer se todos os setores que discordam do discurso de Bolsonaro não apresentarem alguma proposta palpável de mudança. A postura atual de todos os “anti-Bolsonaro” é tratar o sujeito com desdém, diminuir intelectualmente seu eleitorado, acreditar que o candidato não teria condições de disputar uma eleição presidencial. 

Tenho convicção de que o discurso de Messias nunca foi tão atual, nunca teve tantos simpatizantes. Não será a desgastada esquerda que vai evitar o sonho de Jair Bolsonaro, mas a própria direita, que ou apresenta um outro candidato viável (alguém disse Doria?), ou pode se acostumar com a imagem do #bolsomito fazendo armas imaginárias com os dedos enquanto recebe a faixa presidencial, em alguns meses.

Ainda que a maioria dos meus conhecidos tenha (ainda) vergonha de se declarar pró-Bolsonaro, o Messias representa boa parte do discurso dos brasileiros: o terror da bandidagem, em um momento no qual a violência social assusta todas as classes, contra políticas liberais de controle de natalidade, a favor da posse de armas e do direito de autodefesa, contra os discursos das minorias, negros, gays índios e grupos feministas. Sobre este último ponto, quem votará em Bolsonaro não será necessariamente homofóbico ou racista: vão ser os que não aguentam mais um discurso correto. 

Pessoas que acreditam que discutir o racismo gera mais ódio do que deixá-lo escondido, pessoas que desprezam os interesses feministas por considerá-los injustos e, por último, um pensamento muitíssimo popular, pessoas que acreditam que direitos humanos são uma forma de proteção de bandidos. E ainda haverá o voto “zueiro”: aqueles que votarão em Bolsonaro apenas para ver o circo pegar fogo. Lembre-se do Tiririca.

Estou me acostumando com a ideia de Jair Bolsonaro presidente porque vejo um paralelo com a eleição americana. Se a mídia se dedicar a sublinhar suas contradições e atacar Bolsonaro, fortalecerá o discurso do rejeitado pela grande imprensa, deixando o candidato ainda mais forte. Se, por outro lado, a mídia aproveitar suas ótimas entrevistas e interesse público no que ele fala para aumentar ibope e vendas, dará ao sujeito mais destaque e tempo de exposição. 

Só há uma chance de frear Bolsonaro: um candidato muito melhor do que ele, ou muito pior, que atrairia mais atenção da mídia e interesse da população. Com a violência galopante, o discurso de “bandido bom é bandido morto” é redentor e, quanto mais os Estados estiverem quebrados e impossibilitados de fortalecer a segurança pública, mais o discurso de um salvador da pátria ganhará adeptos.

Se você pertence a um setor progressista da sociedade e acha que é inaceitável o que estou dizendo, perceba: os setores progressistas estão todos desmembrados, cada um com sua agenda, e seguidamente com candidatos diversos. Entre a esquerda, existem discordâncias determinantes de discurso, enquanto a direita irá abraçar o candidato com mais chance. Um candidato aliado a evangélicos, militares, liberais, antiesquerdas. Um candidato que representa a resposta à mídia manipuladora, aos sindicatos “que só descontam nossos salários e não fazem nada”, aos direitos humanos que protegem bandidos, aos corruptos do Congresso, o salvador da pátria que irá colocar ordem nessa zona que virou o país.

Todos nós deveríamos nos acostumar com a ideia de Jair Bolsonaro presidente do Brasil. Nada parece evitar esta realidade. Se a segurança pública não for resolvida em 18 meses (não será), é este o nome que teremos para resolvê-la. Se Bolsonaro for pego em um escândalo, será perseguição da mídia. 

Se falar absurdos nos debates, será corajoso e nobre, falando aquilo de que todos têm vergonha. Nem Aécio, nem Alckmin, nem Serra, nem os encrencados de esquerda, nem os sensatos de centro parecem ter o mesmo fôlego. Comece a se acostumar com a ideia: pro bem ou pro mal, quer você goste da ideia ou a considere um absurdo. Jair Bolsonaro, presidente do Brasil.

David Coimbra está em férias. Neste período, irão substituí-lo Marcos Piangers, Fabrício Carpinejar, Nílson Souza, Cláudia Laitano e Humberto Trezzi.

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