26 de abril de 2016 | N° 18509
CRISE EM BRASÍLIA
PRIORIDADE É DEFINIR ÁREA ECONÔMICA
PREPARADO PARA POSSÍVEL AFASTAMENTO temporário de Dilma Rousseff pelo Senado, Temer trabalha para fechar os nomes para Fazenda, Banco Central e Planejamento
O governo Michel Temer é gestado a partir da equipe econômica. Até o Senado votar, com provável aceite, a admissibilidade do processo de impeachment e o afastamento temporário da presidente Dilma Rousseff, o vice quer escolher nomes para Fazenda, Banco Central (BC) e Planejamento. O rateio da Esplanada entre aliados ocorrerá após essa definição.
Mesmo interino no cargo, Temer quer dar início a um governo com discurso de “união nacional”. Ele e sua equipe têm pouco mais de duas semanas para fechar a composição, já que a votação do Senado é prevista para 11 de maio. O vice esboça uma equipe econômica respeitada pelo mercado e capaz de trabalhar em harmonia. Definido o titular da Fazenda, deverão ser aprovados os nomes de BC, BNDES, Banco do Brasil e Caixa. Para o Planejamento, o mais cotado é o senador Romero Jucá (PMDB-RR), presidente em exercício do PMDB.
Evitar uma equipe rachada, a exemplo do que ocorreu com Joaquim Levy e Nelson Barbosa, é considerado fundamental. A prerrogativa de escolher os colegas foi imposta por Henrique Meirelles, ex-presidente do BC, e José Serra, senador (PSDB-SP), ambos cotados para Fazenda, que tiveram em momentos separados conversas com o vice em Brasília.
Serra quer ser ministro e tem apoio do ex-presidente Fernando Henrique e do ex-presidente do BC Armínio Fraga. O senador depende do aval dos tucanos para assumir cargos em um governo Temer, decisão que será tomada em reunião do partido em 3 de maio. A definição tem por trás a disputa entre Serra, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, pela indicação para concorrer ao Planalto em 2018. Antes de bater o martelo sobre entrar no governo, os tucanos entregarão a Temer um conjunto de propostas defendidas pela sigla.
– O PSDB apoiou a votação do impeachment da presidente Dilma. É natural que, havendo o impeachment, deverá assumir o vice-presidente Michel Temer. Não podemos deixá-lo ao relento – afirma Serra.
O tucano é considerado um coringa pelo vice. Pode ser convidado para Saúde, Educação ou uma pasta da área social. Outro nome com esse perfil é Nelson Jobim, cotado para Defesa, Justiça e Relações Exteriores. Contudo, o gaúcho tem dito a amigos que gostaria de seguir advogando. Ayres Britto, ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), é desejado para Justiça. A fusão de Transportes, Aviação e Portos está na pauta do PMDB, que pretende reduzir a Esplanada de 31 para 22 ministérios.
BASE DE APOIO PASSA POR DISTRIBUIÇÃO DE CARGOS
Nos últimos dias, Temer conversou com presidentes de partidos e líderes de bancadas, de olho na governabilidade. A base dos sonhos terá a oposição, com PSDB, DEM, PPS e SD fiéis, mais o chamado centrão – PP, PR, PSD, PTB, PRB e PV. No fim de semana, o vice falou com Gilberto Kassab, patriarca do PSD, e Ciro Nogueira (PI), presidente do PP, que corteja Saúde, Integração e uma estatal.
– Se for tratado como o maior partido aliado, o PP discutirá participar do governo – diz Ciro.
Para driblar erros, Temer discute cortes e composições do primeiro escalão com aliados do PMDB, como Eliseu Padilha e Moreira Franco, e consultores. Ele ainda pretende receber um raio X da situação fiscal do país do ex-ministro Joaquim Levy. Presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf faz a ponte com o empresariado.
Temer também desenha programas de governo. A base será o documento Uma Ponte para o Futuro (leia mais na página 13). A ideia é fazer um ajuste fiscal duro, pelo menos até o final do ano, antes de propor aumento de impostos. Planeja ainda um pente fino nos programas sociais, a fim de reduzir beneficiados e ampliar os valores individuais dos repasses, em especial no Bolsa Família, focado nos 40 milhões de brasileiros considerados mais pobres.
guilherme.mazui@gruporbs.com.br
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