11 de abril de 2016 | N° 18496
CÍNTIA MOSCOVICH
PARA SALVAR O PAÍS
Vivendo o horror em que se tornou nosso país, viro e reviro uma frase que me chegou através do psicanalista Abrão Slavutzky: “As pessoas amam para que não fiquem doentes”.
O enunciado é simplérrimo, mas exige um pouquinho de atenção. O amor do qual se fala é, em sentido amplo, a capacidade de criar vínculos de afeto e de se reconhecer no outro. Não é um amor óbvio, portanto, mas é amor que vem da saúde da alma e da disposição para viver em grupo.
Em meio a essa terra em transe, cheguei a uma outra conclusão: as pessoas leem pelo mesmo motivo pelo qual amam. A leitura também serve para não ficarmos doentes. A leitura é uma forma de amor.
Querendo fugir de idealizações, mas já idealizando, afirmo que aquele que nutre o hábito da leitura apresenta algumas virtudes imprescindíveis em momentos de crise. A maioria dos leitores habituais é capaz de compreender conceitos sofisticados, de cruzar e analisar informações e de perceber sutilezas reveladoras. A leitura, porque reproduz aquela solidariedade que o autor estabelece com seus personagens, estimula a que se reconheça no outro um semelhante. Essa empatia e cultivo de conhecimentos são experimentados durante as horas em que se divide a vida com um livro.
Mas não é só. Leitores de carteirinha têm senso de humor, resistem aos ímpetos de justiçamento e às chantagens emocionais. O indivíduo que lê acostumou-se a formar mundos somente com imagens mentais e, por outro lado, acostumou-se também a um padrão estético elástico, mas nem por isso pouco exigente. Leitores esquivam-se do elogio fácil – coisa que vale ouro em época de um certo cinismo, na qual, em nome de valorizar o indivíduo, alimenta-se a mediocridade como mérito.
Sei que estou pregando uma panaceia meio boba assim como sei o quanto é difícil formar novos leitores. No entanto, o país está agonizante. Tenho certeza de que o Slavutzky concordaria comigo: mais do que estreitar laços para garantir nossa saúde, bem que poderíamos começar a ler para curar duas vezes nossas almas. Quem sabe uma nação de leitores é capaz de curar o país?
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