quinta-feira, 14 de abril de 2016


14 de abril de 2016 | N° 18499 
CARLOS GERBASE

BYE, BYE, BRASIL

Um dos efeitos colaterais menos evidentes – e ao mesmo tempo mais importantes – da nossa interminável crise ética-política-econômica é a significativa revoada de brasileiros para outras plagas, à procura de um ambiente mais estável e mais promissor. As razões são óbvias: as ruas estão inseguras, por conta de uma segurança pública falida; os índices de desemprego sobem mais que o Pedro Geromel cabeceando; e as oportunidades de crescimento profissional são raras. 

Uruguai e Argentina já viveram cenários parecidos, mas nesses países os emigrantes eram quase sempre jovens. Aqui no Brasil, vivemos um clima de desassossego em todas as faixas etárias. Tem gente de meia-idade que batalhou para obter seu passaporte da Comunidade Europeia e agora pensa em usá-lo para fins bem mais definitivos que pegar uma fila menor na alfândega.

Entre os candidatos ao autoexílio estão centenas de acadêmicos, mestres e doutores, tanto jovens quanto veteranos. Ironicamente, graças a bolsas dos órgãos governamentais – como CAPES e CNPq – eles tiveram a oportunidade de estudar no Exterior, quase sempre em países desenvolvidos. 

Eles experimentaram a graça infinita de andar na rua, de madrugada, voltando do teatro, do bar ou do cinema, sem qualquer sobressalto. Eles usaram metrôs eficientes, foram a concertos gratuitos no domingo e frequentaram museus que nunca correm o risco de fechar. Tudo isso é caro? Claro que é, ainda mais com o câmbio atual. Mas quanto custa ficar livre de um revólver apontado contra a cabeça?

O Brasil quer ser chamado de Pátria Educadora, mas alguns de seus educadores mais brilhantes procuram outras pátrias. Eles não são traidores, muito menos cidadãos mal-agradecidos pelo que já receberam. Acadêmicos também sonham com uma vida melhor. Por outro lado, programas como o Ciências Sem Fronteiras e o Prouni, que ampliaram substancialmente o acesso dos jovens à vida acadêmica, parecem perder o fôlego. 

Cultura e educação costumam ser as primeiras áreas a sofrer as consequências da crise, mas, a longo prazo, esses cortes são os que mais prejudicam o desenvolvimento de uma nação. O Brasil tem que suar a camiseta, debelar a crise e continuar investindo em seu futuro.

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