terça-feira, 5 de abril de 2016



05 de abril de 2016 | N° 18491 
LUÍS AUGUSTO FISCHER

URGÂNCIAS E IMPORTÂNCIAS

Chovendo no molhado: que tempinho ruim este, hein? Ódios à flor da pele, inimizades súbitas, aquela pediatra – pediatra, meu, aquela em cujas mãos a mãe entrega a saúde do filho! – de atitude indesculpável... (Já estou eu a negar perdão, que por sinal nem foi pedido.) Tá difícil.

Fico tentando encontrar um ponto, um aleph a partir do qual tudo voltasse a fazer sentido, para além das dissensões, e não encontro, salvo platitudes.

Platitudes? Como quais, por exemplo?

A Lava Jato, mesmo com essa escrita tão mal apanhada (por que não escolheram Lava-a-jato? Por economia de hífen? De “a”?), é um marco da história brasileira e deve continuar. Todos de acordo?

Mas o juiz Moro se excedeu, não apenas naquilo de que pediu perdão ao STF (esqueceu de pedir aos ofendidos, não é?). E o juiz Moro – o senhor concorda, espero – mais de uma vez deixou de lado as possibilidades de atacar, com sua sede de justiça, outros alvos, especialmente os não ligados ao PT.

O STF, tomado como instituição, vai bem, certo? O senhor aceita que não se deve fazer o que fizeram na casa do ministro Teori aqui em Porto Alegre, imagino. Sim? Dilma tem muitos defeitos, mas foi eleita e até aqui nada se provou formalmente contra ela, certo? O presidente da Câmara não dá para apoiar, concorda? O do Senado idem, confere? E o Temer?

O que mais me assusta, quando paro pra pensar nisso, nem é a cara de perplexidade das crianças, que gostariam de ter mais clareza do que estão tendo, e precisariam dela para formar sua visão das coisas, é que tudo isso que acima mencionei é de prazo imediato. Não estamos conseguindo falar de horizontes acima de uns dias, uma semana, o fim de abril.

Lembro de uma palestra a que assisti, começo dos anos 1990, em que um experiente administrador público relatou ser comum, para quem começava a lidar com o mundo da política pelo lado do executivo, o sujeito não conseguir distinguir entre urgências e importâncias. E, disse ele, era muito fácil o sujeito viver apenas lidando com as urgências, deixando as importâncias se empilharem numa ponta da mesa, na gaveta, em qualquer parte.

Platitudes, enfim.

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