20 de abril de 2016 | N° 18504
FÁBIO PRIKLADNICKI
O QUE DIRIA NOSSO PROFESSOR?
Nilton, um dos nossos professores de História no colégio, era uma figura. Entrava em sala de aula batucando com uma caneta e cantarolando alguma coisa de Chico Buarque ou Deep Purple, se bem me lembro do repertório. Era dos raros professores que conquistaram respeito, admiração e simpatia dos alunos. Isso não era tarefa fácil. Estávamos no final dos anos 1990, a poucos passos do vestibular, e não nos importávamos muito com História, como diz aquela música dos Ramones. Com Nilton, aprendemos a gostar.
Lembrei dele depois de assistir aos pronunciamentos da votação do impeach- ment na Câmara dos Deputados. O que explica a popularidade de um deputado que aproveitou para homenagear um torturador e louvar a ditadura militar? Como esse deputado lidera a corrida presidencial entre a camada mais rica da população, como mostrou o Datafolha? Afinal, por que insistimos em não aprender com a história, mesmo que tenhamos tido excelentes professores? O que Nilton, nosso saudoso mestre, diria de tudo isso?
Resolvi perguntar a ele. Nilton Mullet Pereira hoje é professor da área de ensino de História da Faculdade de Educação da UFRGS. Quase 20 anos depois de nossa última aula, contatei-o por e-mail. Garantiu que se lembra muito bem da nossa turma e que está “firme ainda, só com algumas rugas aparecendo”. Disse ele: “Cada vez que alguém nega a tortura ou a ditadura, o faz em desrespeito à democracia, à lei e à justiça.
Creio que a elite brasileira se mantém conservadora e admite recorrer a qualquer candidato que se posicione no outro lado de conquistas sociais e divisão de renda, deixando de lado também a ideia de uma política como arte do diálogo e do espaço público como lugar de estratégias de respeito à diferença, razão muito clara do triste golpe que tem se organizado e que culminou no dia 17 de abril”.
E concluiu: “Será preciso uma boa aula de História para permitir às novas gerações compreender tudo pelo que estamos passando. Nesta aula, certamente deverá haver muito conhecimento histórico, produzido com seriedade e rigor conceitual, e muita política para repensar a nossa memória e as representações que esse discurso conservador, violento e preconceituoso tem criado sobre nós mesmos, sobre os brasileiros”.
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